sábado, 7 de dezembro de 2013

O empreendedor que faz da internet um lugar melhor para você

Você provavelmente nunca ouviu falar de Luis Von Ahn, mas com certeza está familiarizado com seu trabalho. Da busca de imagens do Google àquelas letrinhas que você tem que digitar como confirmação em formulários, muita coisa tem a mão dele




Professor de Ciências da Computação na Universidade de Carnegie Mellon, Luis Von Ahn ainda é o responsável por melhorar o sistema de busca de imagens do Google e ajudar a digitalização de livros por meio do Captcha. Sempre buscando soluções a partir do crowdsourcing, o novo desafio de Ahn é traduzir toda a internet, ao mesmo tempo em que ensina às pessoas, de graça, um novo idioma.

Por que você decidiu traduzir a internet e como o Duolingo está ajudando nessa empreitada?

Existem aproximadamente 1,2 bilhões de pessoas no mundo aprendendo uma língua hoje. A maioria dessas pessoas, cerca de 800 milhões, está aprendendo inglês e pertence a uma classe social mais baixa. Entretanto, aprender outro idioma exige bastante dinheiro, pois são cursos caros. Eu quis inventar uma forma de ensinar outras línguas às pessoas, de graça. E pensei: deve existir uma maneira de financiar isto.

Mas se não vamos cobrar dos usuários, como vamos fazer? Foi quando nós percebemos que poderíamos traduzir a internet ao mesmo tempo em que ensinamos um novo idioma. A ideia do Duolingo é que, em vez de cobrar dos alunos com dinheiro, o que fazemos é inserir exercícios de tradução, que são páginas da internet. É um método bom para todos! O aluno exercita o que aprende e nós conseguimos lucrar a partir da venda dessas traduções.

Então, se alguém, por exemplo, um jornal ou portal de notícias, deseja traduzir seu conteúdo do inglês para o português, nós podemos fazer o serviço para eles e cobramos por isso. Mas seriam os estudantes traduzindo, ao mesmo tempo em que aprendem. Então essa era a ideia inicial e o objetivo do Duolingo.

A plataforma é capaz de substituir o ensino tradicional? O estudante aprende a escrever, a ler e a falar com fluência no Duolingo?

Nem tudo o que as pessoas fazem no Duolingo é tradução, apenas alguns exercícios são. A plataforma é completa e pode ensinar tudo. O sistema conversa com o aluno e consegue avaliar se o que ele diz está correto, assim como o estudante precisa entender o que ele diz. O método é semelhante ao de um jogo.

Existe um plano de expansão do Duolingo?

Sim, nós estamos focando bastante na América Latina, especialmente, porque eu nasci na Guatemala. Outro projeto para os próximos dois meses é implementar provas e certificados de proficiência. Veja, exames como o TOEFL são extremamente caros e não existe motivo para isso, além do fato das empresas quererem lucrar. O custo de uma prova como essa é de cinco dólares por candidato e eles cobram 200 dólares, isso não é bom. Nós queremos fazer uma versão mais barata desses testes e aumentar o acesso das pessoas a provas como essas.

Você pode nos contar um pouco sobre o seu projeto chamado “Games with a purpose”?

Sim, esse foi um projeto desenvolvido há alguns anos, que foi vendido ao Google. Era um jogo chamado ESP Game, que posteriormente se transformou no Google Image Labeler. A ideia era que, enquanto as pessoas jogavam, elas também estavam ajudando a melhorar o sistema de busca por imagens. Ao mesmo tempo em que se divertiam, elas diziam ao Google quais eram os melhores resultados na busca de imagens e quais eram ruins.

Um dos seus projetos mais conhecidos é o Captcha. Você poderia nos contar como ele se tornou o ReCaptcha?

O Captcha original, que ajudei a inventar, em 2000, era apenas um mecanismo de segurança para a internet. O sistema funciona porque as pessoas são capazes de ler esses caracteres, que computadores não conseguem. Então, por exemplo, no caso do Facebook, a razão pela qual você precisa digitar um Captcha quando cria uma conta é para garantir que uma pessoa esteja fazendo isto e não um programa de computador criado para obter dados de milhares de outras contas.

Esse é o Captcha original. Em um dado momento, percebi que 200 milhões de Captchas eram digitados todos os dias por pessoas ao redor do mundo. No princípio, fiquei muito orgulhoso do impacto que a minha pesquisa teve, porém me senti mal pelo desperdício de tempo que é. Cada pessoa leva 10 segundos para digitar um Captcha, se multiplicarmos por 200 milhões, chegamos a um desperdício de tempo de aproximadamente 500 mil horas por dia.

Então, comecei a pensar em maneiras de reutilizar esse esforço. Seria possível fazer outro trabalho durante esses 10 segundos? E a resposta é sim. Com o ReCaptcha, quando você digita as palavras, você não está apenas provando que é uma pessoa, mas também está nos ajudando a digitalizar livros.

E como o ReCaptcha funciona?

Bem, a ideia é transformar obras físicas em digitais, para disponibilizá-las na internet. Durante o processo, o livro é scaneado, página por página. Isto nos dá imagens de todas as palavras, que são encaminhadas para um leitor óptico (OCR) que deve decifrar o que está escrito ali. O problema é que quando o livro é um pouco antigo e a tinta está apagada, o computador não consegue entender algumas letras. Então, o que nós fazemos é pegar todas as palavras que o computador não consegue ler e as colocamos em Captchas, para que as pessoas resolvam. Então, os Captchas que você digita hoje são aqueles que o computador não conseguiu reconhecer e que vão ajudar a digitalizar um livro.

Você acredita que o crowdsourcing promoverá um impacto no modelo tradicional de negócios?

Eu acredito que existem algumas formas de impacto. Nós estamos vendo diversos negócios sendo executados de maneira semelhante ao crowdsourcing. Por exemplo, existe o website 99designs.

Se antes você precisava contratar um designer em algum lugar, hoje você só precisa escrever o que precisa e várias pessoas farão esse trabalho, para que você escolha o melhor. Existem milhares de exemplos de serviços como esse, onde o crowdsourcing está substituindo o processo natural dos negócios, o modelo tradicional. Não funciona para tudo, mas ajuda em algumas coisas.

Eu usaria como exemplo a Wikipedia, que é simplesmente melhor que todas as enciclopédias, não existe mais competição. Eu acredito que a Britannica saiu do mundo dos negócios por causa da Wikipedia, que é alimentada por crowdsourcing.

Você tem vendido suas ideias para grandes empresas desde cedo e consegue atrair diversos investidores. Como você convence as pessoas a acreditarem no seu negócio?

Eu acredito que o mais importante foi sempre ter um produto que funciona. Antes de tentar convencer qualquer pessoa, eu trabalhei no produto. Quando os outros viam meu trabalho, podiam atestar que realmente estava pronto e funcionava. Demonstrar é muito mais fácil do que falar. É o mesmo com o Duolingo, uma plataforma que é eficiente. Existe hoje sete milhões de usuários, então seu sucesso é inquestionável. A chave é fazer primeiro.



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