Outro dia, estava parado tranquilamente num sinal vermelho,
quando meu carro foi abalroado violentamente e teve sua traseira destruída, o
que resultou em perda total. Uma coisa é certa, o motorista do outro veículo
podia estar focando em múltiplas coisas, menos no que devia, era importante e essencial,
ou seja, no carro que trafegava à sua frente. Podia estar falando ao celular ou
até olhando a lua que, quem sabe, estivesse muito bonita.
Foco é uma questão essencial para instituições, empresas ou
pessoas. Assim, um exército que luta em várias frentes tem suas forças
dissipadas e aumenta consideravelmente a probabilidade de perder a guerra. Uma
empresa que tem múltiplos focos pode acabar tendo baixa produtividade e ir a
banca rota, ou como diz Al Ries: "Foco é uma questão de vida e morte para
uma empresa". Para pessoas vale a Lei da Atenção Concentrada (Foco) de
Charles Baudouin: "Quando uma pessoa foca a sua atenção numa ideia, esta
tende a se concretizar por si mesma". E cabe ressaltar que isto tanto vale
para o bem como para o mal, ou seja, quem foca no negativo, negativo vai ter.
Assim, se você quiser se sentir mal é fácil, é só focar em todas as tragédias
do mundo e, em pouco tempo, você vai estar deprimido ou dominado por outras
emoções negativas. Em suma, foco é como diz uma música composta por Billy
Blanco: "O que dá para rir também dá para chorar".
Assim sendo, entender a questão do foco pode fazer a
diferença entre o sucesso e o fracasso. Quando se pensa em foco, existem dois
conceitos distintos. Um é o de inteligência multifocal. O outro é o de
inteligência com foco essencial ou focada, que é baseada em princípios da
sabedoria universal, inclusive em processo decisório e solução de problemas.
A inteligência multifocal
O conceito de inteligência multifocal é inspirado no
conceito de inteligências múltiplas de Howard Gardner, psicólogo da
Universidade de Harvard que, baseado em pesquisas, questionou a visão
tradicional de inteligência, uma visão que enfatiza as habilidades linguística
e lógico-matemática e que é medida nos testes de QI. Gardner identificou que
não existem apenas dois, mas sete tipos de inteligências: linguística,
lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal
Na sua essência, a inteligência multifocal é uma constatação
de que é possível ter múltiplos focos, ou seja, que é possível focar em muitas
coisas. Para saber mais sobre o tema, você pode ler meu artigo Inteligência
Multifocal para Administradores e, subsidiariamente, Compras: uma Competência
Essencial para um Administrador e Palavras Assassinas Internalizadas: Aprenda a
Administrar seu Pensamento.
A inteligência com foco essencial ou focada
A inteligência com foco essencial tem base nos seguintes
princípios:
1) É óbvio que uma pessoa pode focar em múltiplas coisas,
mas não ao mesmo tempo. Assim, se você estiver focando no que está na sua
frente, não pode focar ao mesmo tempo no que está atrás de você. E se você
estiver focando nos seus pés, não poderá ver um pássaro que estiver voando
acima da sua cabeça;
2) Naquilo que uma pessoa pode focar existem coisas
importantes, mas também aquelas destituídas de valor e, pior do que isto,
coisas que são inadequadas e destrutivas, para a própria pessoa, para os outros
e para o universo. Assim, a grande questão do foco é saber e decidir o que é importante
e prioritário e este importante e prioritário é dinâmico. Ou como dizia o
filósofo grego Heráclito: "Uma pessoa não se banha duas vezes no mesmo
rio", ou seja, tudo está em constante vibração e mutação;
3) A tendência da mente é a dispersão, ou de acordo com
Buda: "A mente é um macaco pulando de galho em galho, em busca do fruto,
na selva do condicionamento humano";
4) Saber o que focar e manter o foco é, portanto, a grande
questão. De acordo com Emmet Fox: "Até conseguir colocar sua atenção
naquilo que quer, você não pode se considerar um mestre de suas ações. Você
nunca será feliz até que seja capaz de determinar no que irá pensar na hora
seguinte";
5) Por um lado, é importante desenvolver o controle metal e
emocional e saber o que é a mente emissiva e o que é a mente receptiva. Por
outro, foco é uma questão de decisão. Assim, decidir o que focar é uma das
decisões mais importante para se chegar à excelência de resultados;
6) Existem 6 tipos de foco que são: o efetivo ou essencial,
ou seja, o que agrega valor e os focos que prejudicam ou que afastam você da
realização dos seus objetivos. Entre eles estão os focos caótico, bode cego,
equivocado, limitado e contaminado.
O foco caótico
O foco caótico é, em si mesmo, o antifoco. É ficar pulando
de galho em galho sem nenhuma consistência e direção e faz com que se não tenha
nenhuma disciplina. Quando uma pessoa ou uma organização tem dificuldade para
realizar aquilo que foi planejado, entre as várias causas possíveis, existem 3
que são comuns: modelo mental limitado, esforço ineficiente e foco caótico.
O foco bode cego
É o de uma pessoa ou organização que está focada numa
direção e se torna incapaz de perceber mudanças, ameaças e oportunidades. Dois
exemplos:
1) Em 1905, um químico alemão desenvolveu a novocaína como o
primeiro anestésico local e, embora tentasse, não conseguiu que os médicos a
usassem. Eles preferiram a anestesia geral. Mas sem mais nem menos, os
dentistas começaram a usar o medicamento. E o inventor ficou muito irritado com
isto, afinal, o seu invento havia sido feito para médicos. Dizem que passou o
resto da sua vida, fazendo preleções para dentistas contra o uso da novocaína
para fins odontológicos. Portanto, se a sorte bater na sua porta, não a
despreze.
2) A Enciclopédia Britânica era líder absoluta no seu setor.
Entretanto, não se deu conta de que estavam acontecendo drásticas mudanças no
mercado com o advento dos microcomputadores. Outras possibilidades começaram a
surgir com a utilização de CDs. Por que comprar uma Britânica pelo preço de um
microcomputador? Quando a Britânica percebeu isto, uma boa parte do seu mercado
já tinha ido. Assim, não fique focado só no seu sucesso. O sucesso de ontem não
é garantia do sucesso amanhã. Esteja atento às ameaças.
O foco equivocado
É aquele do motorista que destruiu a traseira do meu carro.
Não estava focando no que devia, ou seja, no trânsito. Muitos desastres são
relatados a respeito de motoristas que mandam mensagem pelo celular enquanto
dirigem seus automóveis. As vezes acontecem acidentes por muito menos do que
isto. Michael Schumacher, o piloto mais vitorioso da fórmula 1, estava
dirigindo numa autoestrada alemã, quando foi mudar a estação de radio e acabou
batendo no carro que estava na sua frente.
O foco limitado
Embora uma pessoa não possa focar em várias coisas ao mesmo
tempo, existe um conjunto de coisas que precisam ser focadas ao longo de um dia
ou de um determinado período de tempo. O foco limitado não identifica todas as
condições necessárias e suficientes para o sucesso. Para organizações,
contraria um velho ditado: "não coloque todos os ovos numa cesta só".
O Magazine Luiza, por exemplo, em nome do foco, foi orientado a abrir mão de
uma de suas linhas de produtos. Felizmente não seguiu a orientação, que como os
fatos vieram a mostrar posteriormente, se constituía em grave equívoco. Assim,
saber a amplitude das coisas que uma organização ou pessoa pode focar é uma
grande questão. Uma empresa com excesso de focos dissipa seus recursos, mas com
foco limitado pode perder oportunidades.
O foco contaminado
É o foco de uma pessoa que, de uma forma ou de outra, não
consegue viver o presente e não segue a expressão "Faze o que fazes"
ou "Age quod agis", que era o lema do filósofo grego Xenofanes de
Cólofon, que viveu antes de Sócrates. Viver o presente com qualidade significa
não estar contaminado por múltiplas solicitações ou pelo passado. Assim,
existem pessoas que quando lhes acontece qualquer problema pela manhã, ou mesmo
em algum lugar do passado, ficam com o problema o tempo inteiro e não conseguem
fazer bem aquilo que tem que ser feito no seu aqui e agora. O foco contaminado
também é uma das principais causas das reuniões com baixa produtividade e
qualidade hoje em dia, um dos fatores que mais contribuem para a má
administração do tempo.
O foco efetivo ou essencial
Entre as múltiplas coisas que se pode focar, a maioria delas
é inútil e vale o Princípio de Pareto que reza que existem algumas poucas
coisas relevantes em relação a muitas coisas triviais e, até mesmo,
destrutivas. Assim, sempre vale o que dizia Peter Drucker: "O produto
final do trabalho de um administrador são decisões e ações". E uma das
decisões mais importantes para pessoas e organizações é a que trata do: o que,
para que, como, quando, onde e quanto focar. Vamos a alguns exemplos:
Um dos primeiros computadores desenvolvidos para fins
científicos foi o Eniac da Universidade da Pensilvânia. Entretanto, o Eniac era
muito mais adequado para aplicações empresariais como o processamento de folhas
de pagamento, só que seus projetistas não perceberam isto. A IBM criou a sua
própria versão do Eniac, que foi lançada em 1953 e se constituiu no padrão para
computadores comerciais, multifuncionais e centrais. A Universidade da
Pensilvânia teve o foco bode cego. A IBM o foco voltado para oportunidade.
Busque proativamente por oportunidades. Não espere apenas que elas venham até
você.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, uma pequena empresa
indiana de engenharia comprou uma licença para produzir uma bicicleta de
projeto europeu, que possuía um fraco motor auxiliar. Embora o produto
parecesse ideal para a Índia, nunca se saiu muito bem. Entretanto, o fabricante
notou que havia um grande número de pedidos apenas para o motor. Foi verificar
a razão e descobriu que os fazendeiros estavam tirando os motores das
bicicletas e usando-os para acionar bombas de irrigação que até então eram
operadas manualmente. Esse fabricante se tornou o maior produtor mundial de
bombas de irrigação de pequeno porte. Suas bombas revolucionaram toda a
agricultura do sudoeste da Ásia. É preciso estar atento aos sinais que o mundo
nos envia. Descubra sinais que identificam necessidades de mudanças. Pequenos
sinais podem levar a grandes mudanças e sucessos. Às vezes, é preciso desistir
do seu sonho e ir em busca de um outro sonho.
Para concluir
Esteja consciente do fato de que, queiramos ou não, estamos
sempre decidindo e uma das decisões mais importantes que podemos tomar está a
relativa ao foco. Mas é preciso ter cuidado com conceitos simplórios e
equivocados que podem redundar em graves prejuízos. Saber o que focar demanda
aprendizado e muita competência. Importa em avaliação precisa de cada situação,
identificação de oportunidades, ameaças e, acima de tudo, em flexibilidade, que
é um conceito difícil e complexo, mas extremamente importante para se
compreender melhor o que seja a inteligência com foco essencial. As duas frases
que se seguem mostram melhor a questão:
"Insanidade é fazer as mesmas coisas repetidas vezes e
esperar obter resultados diferentes" (Jeff Olson).
"Quando nada parece ajudar, eu vou e olho o cortador de
pedras martelando sua rocha talvez cem vezes sem que nem uma só rachadura
apareça. No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas,
e eu sei que não foi aquela a que conseguiu, mas todas as que vieram
antes" (Jacob Riis)
Isto significa que manter o foco, insistir e persistir no
seu sonho pode ser sinal de insanidade, mas também, manter o foco, insistir e
persistir no seu sonho pode ser sinal de lucidez. E saber a diferença entre uma
situação e outra é a grande questão e o objetivo da inteligência com foco
essencial. Em suma, tudo na vida importa em perceber, compreender, escolher,
decidir e agir e, isto será objeto de um outro artigo. Mas, mais uma vez, vale
lembrar a música composta pelo Billy Blanco: "O que dá para rir também dá
para chorar".
Fonte: Administradores
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