Talvez você tenha lucro, talvez não. Mas o aprendizado provavelmente será mais valioso que qualquer porcentagem em um extrato
Deixe-me dizer logo de cara: a maior parte desses livros
considerados “Finanças Pessoais” não passa de auto-ajuda equivocada. Quanto
mais popular a ideia, mais gente viu a oportunidade de escrever e dar conselhos
sobre ações, opções, etc. sem ter um bom domínio do tema. Pior, sem experiência
e risco suficiente investido ali.
O que quero dizer com isso? Comprei minhas primeiras ações
quando a Vale abriu seu capital. Com o tempo, montei uma carteira e abandonei a
passividade que costumamos ter com nosso dinheiro.
Eu poderia dizer que, financeiramente, isso é bom e assim por
diante, mas esse não é o ponto. Aliás, um ponto que passa despercebido nessa
onda de “fique rico sozinho” que vemos nas livrarias: investir de forma ativa
me tornou um melhor administrador.
Quando você sai da caderneta de poupança e compra Letras do
Tesouro, quando abandona um fundo que o administrador decide por você e passa a
colocar o dinheiro em suas escolhas, está aprendendo a fazer análises, a tomar
decisões e a se responsabilizar por elas.
Uma coisa é você ler uma análise (ou um livro) de alguém
dizendo que o investimento XYZ é bom. Outra é você colocar o próprio dinheiro.
O benefício não ocorre só quando você acerta e ganha mais dinheiro. Perder
dinheiro assumindo responsabilidade pelas próprias decisões é uma bela lição. O
famosos investidor Ken Fisher chama o mercado financeiro de “O Grande
Humilhador”. E isso é bom. Se todas as pessoas com dicas certeiras para ficar
ricas seguissem o que pregam, com o tempo muitas delas seriam humilhadas pelo
mercado, e nada melhor que um pouco de humildade para esse tipo de arrogância.
Investir constrói caráter. Como assim? Lembro quando comecei
a vender as ações que tinha da Petrobras. Me perguntaram, do outro lado da
linha, se eu realmente tinha certeza, já que todas as corretoras recomendavam a
empresa. Sim. Eu achava que o governo e a empresa não estavam sendo justos com
pequenos acionistas como eu. Vendi, as ações subiram mais um pouco (um período
que me deixou meio triste por ter errado), mas então veio a conclusão: as ações
despencaram. Uma coisa é dizer que alguma política é errônea. Outra é colocar o
próprio dinheiro na linha de fogo com base na sua opinião.
E é isso que falta aos tais gurus de auto-ajuda financeira.
Assumir responsabilidade pode não te deixar mais rico. Mas se você acha que a
economia vai mal e continuar comprando ações, há um problema em sua postura. Se
você diz que as empresas no Brasil dão lucros absurdos mas não compra ações,
também está sendo contraditório. Fazer discursos é fácil, difícil é assumir
responsabilidade pelos resultados disso.
No início do ano passado eu estava passando na Avenida
Paulista quando vi uma turma daquelas que gostam de protestar: megafones,
bandeiras e toda a panafernália usual. Lembro que gritavam contra os lucros dos
bancos, o capitalismo, FMI e sei lá mais o quê. Após o protesto, foram todos em
fila tomar um sorvete no McDonalds. Troquei de celular e infelizmente acho que
a foto se perdeu, mas fiquei pensando na contradição: não só a ação da Itaúsa,
controladora do Itaú na época custava menos de R$10,00, como o pessoal na fila
não via a inconsistência entre seus discursos e atos. Se os bancos davam tanto
dinheiro, porque não ficar sócio deles, baratinho?
Costumo dizer que o mundo dos investimentos é a melhor aula
que você pode ter sobre administração. Você aprende a analisar, formar opiniões
e melhor, assumir uma postura de “faça o que eu digo e faça o que eu faço”. É
muito fácil dar opiniões, análises, inventar modelos sem se comprometer com o
resultado (aliás, esse é o meu maior problema com a maioria dos que se dizem
“consultores” - dão opinião mas não assumem risco nenhum, mas isso fica para
outro texto).
Por isso, pegue aquele dinheiro que está estacionado em um
fundo daqueles que você não sabe o que tem dentro, ou daquele curso que você
está pensando em fazer, ou de qualquer canto, e comece a assumir
responsabilidade por sua vida financeira. Talvez você tenha lucro, talvez não.
Mas o aprendizado provavelmente será mais valioso que qualquer porcentagem em
um extrato.
Fonte: Administradores
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