Para alguns, o que você vai ler aqui é o óbvio do óbvio. Mas
ainda há quem resista em aceitar certas relações com a área. Entenda o que sua
profissão, administrador, tem a ver com sucessos e fracassos do esporte, da
música, de um novo sabor de salgadinho e mesmo dos hits da internet
No ano passado, promovemos no Administradores.com a campanha
“A Administração move o mundo”, com o intuito de valorizar todos os
profissionais envolvidos com a área. O movimento se espalhou através das mídias
sociais, nas faculdades e eventos da área Brasil afora, conquistando a adesão
de estudantes, professores e profissionais de mercado. Há grandes chances,
inclusive, de você que nos lê agora ter se engajado – seja compartilhando a
mensagem no Facebook, dando RT no Twitter ou vestindo a camisa da campanha –
fazendo ecoar a mensagem de que sua profissão é indispensável para o planeta.
Mas, afinal, que engrenagem tão poderosa é essa?
A Administração se faz, já sabemos, não apenas nas salas de
reuniões sisudas e pelas mãos de homens de terno e gravata, estereótipos com os
quais já estamos bastante acostumados. A Administração, certamente, é uma área
privilegiada pela facilidade de atingir todas as organizações, independente de
sua natureza ou de sua dimensão. Seja nos setores de eletrônicos, automotivo,
farmacêutico, agronegócio, construção civil, em uma pequena mercearia no
interior do Brasil ou no modelo de gestão das principais multinacionais do
mundo, os princípios da área estão presentes.
Mas o ato de administrar nem sempre se dá dentro de uma
organização, segue a formalidade metodológica ou se estrutura conforme a teoria
tradicional prevê. E foi justamente cobrindo áreas pouco associadas à
atividade, buscando conexões não muito casuais, que acabamos nos deparando
várias vezes com uma pergunta que já se tornou clássica aqui no
Administradores: “o que isso tem a ver com Administração?”
Está na hora de você descobrir o que um tema de abertura de
novela pode ter a ver com o modelo de negócios que está ensinando a indústria
fonográfica a se reinventar, por que jogar futebol não é simplesmente correr
atrás de uma bola e, entre outras coisas, como a notícia de um novo sabor de
salgadinho pode acabar sendo tão importante quanto um postulado de Fayol.
“Ex-my love”: esse hit vale bem mais que R$ 1,99
Um hit chiclete como qualquer outro: tocou até pouco tempo
atrás na abertura de uma telenovela, foi repetido pelo menos umas dez vezes
diariamente em todas as rádios do Brasil e sua intérprete se tornou figurinha
carimbada nos principais programas da maior emissora de TV do país. Essa
poderia ser a breve história de mais um caso de 15 minutos de fama fabricado
pelo mainstream midiático. Mas não é. E tem tudo a ver com Administração.
Um dos maiores sucessos musicais nacionais no ano passado
foi a assumidamente brega “Ex-my love”, música interpretada pela cantora Gaby
Amarantos, que despontou da cena tecnobrega de Belém do Pará diretamente para
os grandes centros do Brasil no primeiro semestre de 2012. Mas, ao contrário do
que alguns desavisados pensam, a artista não surgiu do dia para a noite – e,
pasmem, não precisou pagar jabá e nem sequer vender CDs para ficar famosa.
Principal expoente de um milionário mercado informal que é
uma verdadeira febre no Norte do país, Gaby é parte de um movimento que está
ensinando a indústria fonográfica a se reinventar com seu nada tradicional
modelo de negócios.Vendo que não poderiam competir com a pirataria, os artistas
do tecnobrega resolveram se unir aos “piratas”, tornando-os vendedores oficiais
e reconhecidos de seus trabalhos.
A dinâmica é bem simples: os músicos gravam um álbum em um
estúdio qualquer e entregam a matriz aos camelôs, que reproduzem e vendem em
massa, tornando as músicas conhecidas. O público gosta e vai ouvir ao vivo nas
festas de tecnobrega, chamadas de aparelhagens. Esses eventos são verdadeiros
cultos à tecnologia, onde grupos disputam quem tem os melhores equipamentos de
som e luz. E é aí que está o grande lance: essas baladas movimentam milhões e
garantem aos artistas um retorno altamente vantajoso sobre o custo daquele
albunzinho gravado para distribuir com os ambulantes.
“Na cena tecnobrega, a gente sempre utilizou esse modelo
simplesmente para divulgação das músicas. Todo mundo ganha mesmo em show, não
em vendas. As pessoas compram a música no camelô e os artistas ficam conhecidos
sem precisar pagar jabá no rádio. Isso é fantástico”, destaca Gaby Amarantos.
Hoje, com a carreira nacionalizada, a cantora tem contrato
com a gravadora Som Livre e já consegue faturar com vendas de álbuns. Mesmo
assim, ela afirma que fez questão de deixar bem claro que não abandonaria o
modelo de distribuição gratuita e a gravadora compreendeu que o momento do
mercado realmente já é outro e está tentando se adaptar.
“A gente assinou com a Som Livre porque eles compreenderam o
mercado de onde a gente veio, que essa foi uma forma de divulgação que deu
certo e é uma prática que a gente não ia abandonar”, destaca Gaby.
Negócios? Nem Luiza que estava no Canadá ficou de fora
Para a turma do tecnobrega, tão importante quanto a
distribuição através dos camelôs, é a divulgação das músicas pela internet. E,
assim como eles, outras pessoas - não necessariamente artistas - têm conseguido
destaque e se tornado grandes atrativos para marcas antenadas nas
possibilidades de negócios que podem ser gerados.
Um vídeo engraçado, uma imagem ou uma frase de impacto – se
caem na internet e no gosto do público – podem ser compartilhados entre
milhares ou até mesmo milhões de pessoas em todo o mundo. Diante do alcance
possibilitado por esse tipo de conteúdo, as empresas cada vez mais têm
investido na utilização e criação de hits e virais da internet para dar um up
nos negócios.
Um exemplo disso foi o vídeo da propaganda de uma
construtora que deu origem ao meme “Menos Luiza, que está no Canadá” em janeiro
de 2012, febre no Brasil e no exterior.
Várias empresas pegaram carona no sucesso, vinculando suas marcas ao
viral. Uma delas foi a varejista Magazine Luiza que, aproveitando a associação
do meme à sua marca, promoveu, no início daquele ano, o concurso #ALuizaNãoViu,
no Twitter. Na comparação com outras ações da empresa na mesma rede, esta gerou
um aumento de quase 250% nas menções, de acordo com mapeamento da MITI
Inteligência.
Outro caso de repercussão foi o vídeo “Para nossa alegria”,
em que uma família fez sua interpretação da música gospel "Galhos Secos” e
acabou ficando famosa. A Pepsi aproveitou o sucesso das celebridades
instantâneas para ter mais visibilidade ao fazer uma parceria com o grupo. A fábrica de refrigerante propôs um desafio
em sua fanpage no Facebook, prometendo que a família só lançaria uma nova
música caso a companhia atingisse 500 mil fãs em sua página. A meta da Pepsi
foi alcançada rapidamente, pois a empresa – que tinha menos de 400 mil
curtidores em 4 de abril, quando lançou a ação – atingiu seu objetivo em apenas
nove dias.
Outro caso que se tornou um fenômeno no Facebook foi o do
jovem estudante de publicidade Ricck Lopes. Com tiradas sarcásticas, ele criou
a fanpage Gina Indelicada, que ultrapassou um milhão de fãs em uma semana, e
tirou do limbo a adormecida marca de palitos de madeira Gina. Apesar da
polêmica criada pela acusação de que algumas respostas da Gina Indelicada foram
extraídas de outras fontes, o engajamento criado pelo jovem rapaz fez com que
ele fosse convidado para participar de vários trabalhos, além de coordenar a
campanha on-line de uma famosa marca de desodorantes.
O sucesso imediato, com estratégias baseadas no próprio
comportamento dos internautas, mostra como as redes sociais se tornaram uma das
melhores ferramentas para as empresas se conectarem com os clientes de maneiras
diferentes. Com um canal de mídia atingindo 46 milhões de pessoas só no Brasil,
virou praticamente uma questão de sobrevivência as marcas estarem lá.
Os riscos não calculados
No entanto, as empresas nem sempre acertam na hora de lançar
essas ações. Muitas vezes, o que era para viralizar e render bons frutos, acaba
causando polêmica e não contentando todo o público, podendo gerar efeitos
desastrosos para uma marca. Um exemplo foi o vídeo "Perdi meu amor na
balada", em que um rapaz tinha conhecido “o amor de sua vida” e pedia
ajuda para reencontrar a garota. Depois, descobriu-se que era uma ação da Nokia
para promover seu novo aparelho celular.
Mesmo a ação tendo rendido comentários elogiosos, outros
internautas se expressaram negativamente, alguns sentindo-se enganados ou
“feitos de bobo”. “No caso da Nokia, muita gente acabou se sentindo idiota.
Isso foi contrário à proposta e não agregou valor algum à marca, muito pelo
contrário”, afirmou Gabriel Rossi, palestrante e especialista em Marketing
Digital.
De acordo com Rossi, as empresas precisam lidar com a sua
atuação na internet de forma responsável, se preocupando com o fortalecimento
da marca e sabendo enfrentar e reverter crises que possam ocorrer na rede. “A
internet não é só uma ferramenta de comunicação. Pensar assim é um erro brutal
da maioria das marcas. A internet é coisa séria. Requer treinamento, política
de mídias sociais, objetivo de negócio específico, profissionalização,
monitoramento, gerenciamento de comunidade profissionalizado e pesquisa”.
Futebol: administrando mais que a posse de bola
Todos nós já estamos cansados de saber que o futebol é uma
paixão nacional e uma das formas de entretenimento mais comuns do Brasil. Para
quem gosta, poucas coisas são tão boas quanto sentar em frente à TV ou ir ao
estádio, abrir uma (ou algumas) cervejas e quase ter um enfarte torcendo para o
time do coração. Pois bem. Mas o que a final do Brasileirão e o fato de Neymar
ter passado tanto tempo jogando no Brasil, mesmo depois de ter se destacado,
têm a ver com Administração?
A resposta é simples: por trás de qualquer grande
espetáculo, existe sempre um grande negócio. E um grande negócio nunca dará
certo se não tiver quem o administre. O esforço concentrado para manter a
estrela em solo brasileiro foi um dos exemplos mais notórios disso. Para
competir com as propostas do mercado europeu, a diretoria santista teve de
desenvolver e colocar em prática um complexo planejamento estratégico, capaz de
envolver empresas dispostas a investir capital suficiente para bancar a
permanência do craque. Em troca, ele se tornou a figura mais carimbada da
publicidade brasileira – e uma das marcas mais valorizadas do país.
Investir em esportes – principalmente em futebol, no caso do
Brasil – é um negócio que pode render realmente bons frutos. “Os clubes têm o
que todas as outras empresas sonham ter: clientes fãs de suas marcas. Um
torcedor de um time nunca vai comprar a camisa de outro. O torcedor é um
cliente muito fiel. Se você fizer boas coisas para ele, sempre haverá uma
resposta”, ressalta Fred Albuquerque, especialista em marketing esportivo e
dono de uma franquia da Loja do Galo, que vende produtos oficiais do
Atlético/MG.
Fred destaca que, mesmo com os altos e baixos naturais dos
times dentro de campo, o torcedor é um cliente presente. Em 2012, o Atlético/MG
viveu um ótimo momento, fez o melhor início da história do Brasileirão por
pontos corridos e quase se sagrou campeão. Neste ano, é o único do Brasil que
continua na Libertadores da América. Mas, mesmo quando a equipe amargou a queda
para a segunda divisão, o torcedor esteve presente. Do ponto de vista do
negócio, isso significa ter um público fiel mesmo em tempos de crise.
Com um país tão apaixonado por futebol, o mercado de
produtos associados ao segmento tem um potencial muito grande e, na avaliação
de Fred Albuquerque, ainda pode crescer bastante. “Na Europa, você encontra de
escovas de dentes a carros com marcas dos clubes de futebol. No Brasil, isso
ainda se dá de forma tímida”, acredita o especialista.
Com a vinda da Copa do Mundo e das Olimpíadas nos próximos
anos, a expectativa é de que o mercado esportivo brasileiro se aqueça ainda
mais. E pode ter certeza: vão ser necessários vários e bons administradores
para criar e tocar pequenas, médias e grandes iniciativas.
O poder de vendas de um novo sabor de salgadinho
Imagine a seguinte situação: você acessa o
Administradores.com para procurar informações sobre Administração. Nele, você
já leu notícias sobre joint ventures, rodadas de negócios, fusões,
contratações, sugestões de cursos de MBA, dicas sobre como melhorar o
currículo, entre vários outros temas relativos a empresas e carreiras
profissionais. Um dia, você se depara com duas notícias: uma sobre o lançamento
de um novo sabor de uma marca de salgadinhos; e outra referente ao lançamento
de um aplicativo de receitas culinárias para tablets. E aí você se pergunta: o
que isso está fazendo aqui?
Inicialmente, é necessário entender que um produto ou
serviço e o seu lançamento não são nada mais do que frutos de todo um trabalho
interno e externo de uma empresa. Esse esforço demanda, entre outras ações,
investimentos, mão-de-obra, pesquisa com o consumidor, testes e ideias
inovadoras. E vem ainda o pós-lançamento com as vendas e as ações de marketing
para apresentar a novidade aos consumidores, além da consequente receptividade
do público, seguida do sucesso ou não da novidade.
Ufa! Se todos os leitores conhecessem a complexidade de um
lançamento realizado por uma empresa – por mais banal que possa parecer –
saberiam, só de olhar para o título de uma notícia sobre o assunto, que isso
tem tudo a ver com Administração.
Por possuir total relação com negócios, é preciso que as
empresas encarem seriamente a maneira como mostram e vendem seu produto ou
serviço, pois isso determina, na maioria dos casos, como o público vai receber
a novidade. Segundo José Roberto Martins, professor de gestão e avaliação de
ativos intangíveis e branding, “normalmente, os fracassos não estão na
qualidade do serviço ou do produto, mas passam desde uma incompreensão do
posicionamento da marca, e, principalmente do comportamento do consumidor”.
Várias companhias das áreas alimentícia, de bebidas e de
cosmética têm se destacado com suas novas ideias. “As empresas de alimentos
Sadia, Perdigão, Ceratti, Nestlé, são quase sempre bem sucedidas em seus testes
de conceitos. As empresas de bebidas, como Cervejaria Petrópolis, Coca-Cola,
entre outras, também agem assim. Na Natura, Contém 1g e Avon, tudo é testado
exaustivamente dentre públicos selecionados”, afirma Martins.
A Nestlé, por exemplo, que teve um crescimento orgânico
mundial nas vendas de cerca de 6,6%, atingindo 44,1 bilhões de francos suíços
no primeiro semestre de 2012, teve como um dos motivos do seu crescimento na
América Latina o lançamento da marca de chocolates KitKat.
Outra empresa que faturou com lançamentos foi a Ambev. A
companhia, que registrou R$ 2,346 bilhões de lucro líquido normalizado nos
primeiros três meses de 2012, com crescimento de 12,3% em relação ao mesmo
período de 2011, teve a Budweiser como uma das marcas responsáveis pelo bom
desempenho. A cerveja, que chegou ao Brasil no ano passado, foi lançada na
região Nordeste no primeiro trimestre deste ano.
Diante de tudo isso, será ainda que há quem acredite que o
lançamento de uma nova cerveja, ou de um novo chocolate não tenha nenhuma
relação com o mundo dos negócios? E o que falar das músicas, das piadas na web
e do futebol? E olha que nem falamos de moda, filosofia, artes, política, meio
ambiente... Se fôssemos analisar com mais cuidado cada um desses segmentos,
detectaríamos a Administração presente de várias formas. É como diz a campanha
descrita nas primeiras linhas dessa reportagem: a Administração (realmente)
move o mundo.
Fonte: Administradores
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