Como reconhecer a diferença entre marketing multinível sério
e a picaretagem, incluindo desde pirâmides financeiras até versões mais
sofisticadas? Leia e descubra, pois é justamente sobre isso que Sérgio e eu
conversamos nesta entrevista.
Sérgio Buaiz é um dos maiores especialistas no Brasil em
Marketing Multinível (MMN). Em conversa recente que tivemos, mostramos
preocupação sobre algumas práticas corriqueiras, hoje comuns no mercado
brasileiro, e que vão acabar claramente prejudicando milhares de pessoas
desavisadas.
Muita gente, procurando ganhos rápidos, acaba perdendo tudo
que tem. Por isso é fundamental ter muito cuidado ao escolher com quais
empresas de MMN trabalhar. Muitas são sérias. Muitas não são...
Como reconhecer a diferença entre marketing multinível sério
e a picaretagem, incluindo desde pirâmides financeiras até versões mais
sofisticadas?
Leia e descubra, pois é justamente sobre isso que Sérgio e
eu conversamos nesta entrevista.
1) Raul Candeloro: Sérgio, estava voltando outro dia de uma
palestra no interior de Minas Gerais e no trajeto até o aeroporto em BH, o
motorista me contou de uma empresa de marketing multinível que paga em dólares
para que as pessoas postem anúncios no Facebook. Contou que o pastor da sua
igreja estava participando e já tinha até comprado um Camaro, que tinha muita
gente ganhando um dinheirão sem trabalhar e que ele estava pensando seriamente
em investir suas economias de quase R$ 3.000 (tudo que ele tinha conseguido
guardar na sua vida) para começar. Como o que ele me descreveu foi na verdade
uma pirâmide e não uma empresa séria de marketing multinível, convenci-o a cair
fora rapidamente. Mas com certeza tem mais gente caindo nesse (e em outras)
histórias de dinheiro fácil. Como um dos maiores especialistas no Brasil em
MMN, qual sua opinião sobre isso? Estamos realmente passando por uma nova febre
de pirâmides e picaretagens ou é só impressão minha?
Buaiz: Raúl, eu gostaria de te responder que é mais uma
febre passageira, mas infelizmente a situação é mais delicada. Com os avanços
tecnológicos, tem ficado cada vez mais fácil montar esquemas desse tipo e
promovê-los nas redes sociais. Considerando a crise educacional, a ineficácia
da justiça e o padrão de impunidade que assolam a sociedade brasileira,
contamos com o terreno mais fértil do mundo para a proliferação das pirâmides
financeiras high-tech, que têm propriedades holográficas. São legalizadas,
organizadas, inchadas e transferidas, com uma agilidade impressionante,
enquanto a massa de golpistas cresce, a cada giro dessa bola de neve.
Atualmente, temos sempre de três a cinco "esquemas" desse tipo em
evidência, levando milhares de pessoas a perderem dinheiro, enquanto seus
cabeças ganham fortunas, carrões importados e posam como líderes de sucesso no
mercado.
2) Aproveitando: o que é uma pirâmide, como reconhecê-la e,
principalmente, como e por que ela é diferente do MMN correto, profissional?
Buaiz: Ótima pergunta. Muita gente se confunde porque a
definição de pirâmide financeira está ultrapassada. O problema tornou-se mais
complexo, pois existem diversas modalidades de pirâmide. Existe desde aquela
mais simplória, que sugere o envio de cartas com dinheiro pelo correio, até as
muito sofisticadas, que se estruturam como empresas, pagam impostos e investem
milhões para aplicar o golpe. São empresas "feitas para enganar".
3) Sério, como assim? Me explique melhor.
Buaiz: Inicialmente, é importante que a sociedade entenda
alguns conceitos. O Marketing Multinível não é um negócio por si só. MMN é uma
tecnologia de distribuição de comissões, que pode ser aplicada tanto para
estimular a realização de negócios legítimos, quanto para estimular comportamentos
nocivos ao mercado. Portanto, a questão fundamental é identificar a atividade
fim da empresa e, se o produto da sua atuação é realmente viável, do ponto de
vista econômico.
4) Para facilitar o entendimento dos nossos leitores, o que
determina essa viabilidade econômica?
Buaiz: É muito simples. O produto ou serviço de qualquer
empresa séria deve chegar a um cliente final satisfeito. Em outras palavras, a
ponta da cadeia de distribuição deve ser ocupada por alguém que simplesmente
paga e consome o que é vendido, por livre e espontânea vontade, sem qualquer
vínculo com o negócio. Isso vale para as empresas de MMN, mas também para
qualquer outra que se estabeleça. Afinal, quando uma empresa deixa de despertar
essa percepção de valor no mercado, os clientes deixam de comprar e ela
desaparece. Sua atividade fim não tem valor e não sustenta um negócio. Por
maiores que sejam os bônus e benefícios futuros prometidos, não é legítimo
tentar vender o que os outros não querem comprar.
5) Entendi. Então o problema está em usar a lógica do MMN
para mascarar negócios sem sustentação, levando as pessoas a comprarem algo que
não precisam, e que não tem valor de mercado, apenas para participarem do
esquema?
Buaiz: Exatamente. Quando isso se configura, a ponta da
cadeia de distribuição é ocupada por alguém que nem se importa com o produto ou
serviço adquirido. Qualquer compra é tratada apenas como um investimento, na
esperança de envolver outras pessoas e recuperá-lo com lucro. Esse
comportamento se repete até que os últimos não consigam mais transferir a
batata quente adiante. Ou seja, é economicamente inviável, caracterizando um
plano de investimento irregular e altamente prejudicial à população.
6) No caso do meu motorista, ele falou de anúncios postados
no Facebook e que ganharia dinheiro sem trabalhar. Como você definiria isso?
Buaiz: Raúl, eu não sei a qual empresa ele se referia, mas
sou Publicitário formado pela UFRJ e ninguém vai me convencer que lixo virtual
é publicidade. As empresas sérias de propaganda sabem que é preciso avaliar o
público-alvo e direcionar sua comunicação para obter melhores resultados. Nos
casos que eu acompanhei, a proposta era simplesmente fazer SPAM pelas redes
sociais, o que vai na contramão da história. Além de não ser efetivo, gera um desgaste
de imagem enorme, tanto para quem anuncia, quanto para o suposto divulgador.
Outros casos semelhantes dizem que vão pagar para quem simplesmente clica no
anúncio. Isso é uma aberração, pois significa ganhar dinheiro para fraudar os
anunciantes. A questão aqui é clássica, de um produto ou serviço sem valor
algum, sendo promovido como a inovação mais brilhante, para justificar a
captação de recursos do povo.
7) Você disse que existem outros esquemas circulando por aí.
Me conte sobre outro tipo de pirâmide comum, para que os nossos leitores saibam
se precaver?
Buaiz: Hoje, está na moda fazer pirâmide com serviços, pois
sua percepção de valor é mais subjetiva, e a distribuição virtual agiliza em
muito a propagação. A lógica é simples. Elege-se um serviço virtual qualquer,
como Voip, clube de descontos em viagens, "anúncios" no Facebook ou
assinatura de qualquer coisa, que 99% das pessoas não comprariam, em uma
situação normal. Se você comprar 10 vezes o que não usaria nunca, por um preço
10 vezes mais caro do que pagaria se usasse, temos rapidamente uma relação de
custo distorcido para 1%, sobrando uma margem de comissionamento superior à
praticada por qualquer empresa legítima. Por exemplo, o seu motorista resolve
comprar o título de um clube de férias, onde ele terá 50% de desconto em um
hotel de Dubai. A vantagem de 50% é significativa, com certeza, mas será que
ele vai para Dubai? Quantas vezes? Será que investiria as economias dele nisso
agora, não fosse o MMN atrelado? A empresa não terá o custo de prover este
serviço e pode comissionar quanto quiser.
8) Esse é o pior caso que você conhece?
Buaiz: Infelizmente não. Eles são criativos e inventam
fórmulas para desviar mais dinheiro, mais rápido, de mais pessoas. Algumas
empresas cobram "franquias" de milhares de reais para se ter direito
a vender algo que ninguém quer comprar, com margens absurdas. Vamos a um
exemplo? Imagine que o seu motorista passa a ter várias opções de negócio. Ele
pode investir R$ 500 no pacote bronze, para ganhar 5% em 3 níveis. Se preferir,
investe R$ 3.000 para adquirir o pacote prata e ganhar 8% em 4 níveis. Porém,
se for realmente "visionário", investirá R$ 10.000 para tornar-se um
líder gold e ganhar 10% em 5 níveis. Lembrando que são pacotes de serviços que
ninguém compraria, pelo preço praticado, e que ele supostamente irá consumir ou
revender um dia. É inacreditável, mas dezenas de milhares de brasileiros estão
pedindo empréstimos nos bancos para investirem em pacotes de vento dourado.
9) Como identificar esse tipo de golpe? Existe alguma pista?
Buaiz: Raúl, a principal forma de se precaver é aceitar, de
uma vez por todas, que não existe dinheiro fácil. Qualquer negócio sério é
baseado em trabalho dedicado. Já vi muita gente enriquecer de forma honesta com
o Marketing Multinível, mas não caiu do céu. É preciso arregaçar as mangas e
construir um mercado relevante, para uma empresa viável e com produtos de valor
reconhecido pela opinião pública. Portanto, qualquer pessoa que divulgue
negócios com chamadas do tipo: "não precisa vender", "não
precisa recrutar", "investimento garantido", "todo mundo
ganha" etc, está dando pistas de que caiu em um golpe e quer arrastar mais
alguém junto. O Marketing Multinível legítimo se baseia em Venda Direta ao
cliente final, e não apenas à estocagem de produtos, serviços ou direitos
adquiridos, por um investimento qualquer. Construir riqueza com MMN é possível,
mas dá trabalho e não pode ser garantido.
10) Concordo. Vender e empreender dá trabalho e o resultado
vem proporcional ao valor que se leva ao mercado. Mas você falou algo que me
chamou a atenção. Ouvi dizer que tem outra empresa prometendo alugar
equipamentos e repassar os lucros sobre serviços prestados em MMN, sem que
ninguém precise trabalhar. Como isso se sustenta?
Buaiz: Ótima pergunta. Eles dizem que vão investir em mídia
e comercializar os serviços em nome da rede, mas não há qualquer garantia
contratual. E mesmo que houvesse, isso não caracterizaria Venda Direta, e sim
um investimento, que precisaria ser regulamentado pela CVM como tal. Sua
divulgação como "lucro certo" tem sido irresponsável e enganosa,
atraindo milhares de brasileiros para uma aposta arriscada, sem que saibam do
que estão fazendo, e sem avaliarem claramente os riscos envolvidos na operação.
11) Realmente, acredito que é preciso criar uma legislação
mais clara e mecanismos eficazes para evitar situações como essa, mas enquanto
não temos uma solução definitiva, gostaria que você nos desse algumas dicas
preventivas, para que nossos leitores possam evitar cair em pirâmides.
Buaiz: Ótimo, Raúl, mas antes eu gostaria de finalizar com
um alerta importante, que não se restringe ao MMN, mas impacta gravemente a
nossa atividade, por suas características de inclusão social e independência.
Sabemos que nem tudo o que é legal, pode ser considerado
moral e ético. A lei não serve para nos educar, e sim para impor limites ao
crime. Portanto, hoje, o nosso maior problema está na deturpação de conceitos e
valores, que induz a maioria das pessoas a querer levar vantagem em tudo, sem o
mínimo bom senso de medir as consequências.
Aprendi que o MMN tem o poder de recuperar a esperança,
capacitando pessoas comuns para o empreendedorismo e o sucesso, mas às vezes a
ignorância fala mais alto no microfone. O desespero e a ganância de ganhar mais
dinheiro, mais rápido, estimulam comportamentos suicidas de alguns líderes, que
fazem promessas infundadas de facilidades e atalhos, arrastando multidões de
inocentes para o abismo.
Diante deste cenário, o nosso desafio não se restringe a
identificar pirâmides financeiras, do ponto de vista jurídico, mas alertar
sobre todas as práticas nocivas e insustentáveis que também podem ser
conduzidas nas brechas da lei, com discursos falsos, promessas exageradas,
matemática ilusória, concorrência desleal, chantagens, calúnias, uso indevido
de imagem, usurpação de direitos, enfim, aquilo que "acaba passando"
pela complexidade do sistema, mas que deveria ser evitado, com melhores
intenções.
A verdade é que o futuro do MMN está na cabeça de cada um e
na educação da nossa força de vendas.
Nossa consciência social está doente e temos que
recuperá-la, pois a ânsia de ganhar dinheiro não pode cegar as pessoas. Nem
tudo que se permite por lei, é honesto e digno de se fazer. Credibilidade se
constrói com confiança. Uma história de vida e sucesso respeitável se escreve
com realizações duradouras.
Apesar da distância, nossa relação de amizade e parceria
mantém-se há mais de uma década, pelo respeito que sempre cultivamos um pelo
outro, pelas nossas contribuições mútuas, que nunca precisamos estabelecer em
contrato. Porém, a maioria da população desconhece as verdadeiras leis do
sucesso, onde um pode vencer apoiando o outro, e não o contrário.
Após vinte anos de carreira na Venda Direta e MMN,
simplesmente não me interessa mais quem está legalizado, e sim quem faz a coisa
certa, pelo bem do setor, do mercado e da sociedade em que vivemos. Meu
compromisso é com a evolução da nossa liderança, doa a quem doer.
Por tudo isso, lancei o manifesto Marketing DO BEM, que foge
do lugar comum e inclui as seguintes dicas para quem busca o sucesso honesto na
Venda Direta:
1) EMPREENDEDORISMO NÃO É PARASITISMO: Lembre-se que não
existe milagre, nem dinheiro fácil.
2) NEGÓCIO TEM VALOR DE MERCADO: Fuja das empresas que
bonificam sobre taxa de adesão, franquia ou qualquer investimento em
"direitos de participação no negócio", pois são pirâmides
financeiras, independente dos produtos que distribuam e das táticas que se
utilizem para disfarçar o golpe. Todas as comissões e bônus do MMN legítimo
devem ser originadas pela compra de produtos/serviços de valor, devidamente
faturados e entregues, que possam ser revendidos pelo participante a um cliente
final, quando ele quiser.
3) EMPRESA É LEGAL: Saiba onde está se metendo. Dê
preferência a empresas de Vendas Diretas já estabelecidas e testadas pelo
mercado. Se a empresa tiver menos de cinco anos de atuação no Brasil,
investigue cuidadosamente suas origens, documentação, objeto social e
responsáveis legais, antes de envolver o seu nome. E jamais se envolva com
empresas que não estejam devidamente regularizadas no Brasil, pois o MMN neste
caso configura, no mínimo, crime tributário.
4) VENDA DIRETA SE GARANTE: Empresas legítimas incluem uma
política de recompra, no caso da desistência do participante, descontando
apenas custos operacionais de frete e impostos.
5) ORDEM DE CHEGADA NÃO IMPORTA: Negócios de verdade recompensam
principalmente pelo mérito e não pela sequência de entrada. Se o discurso de
"ser um dos primeiros" é tão relevante na comunicação da
oportunidade, isso caracteriza que nem a empresa, nem os líderes acreditam em
sua sustentabilidade futura. Desconfie.
6) QUEM PAGA MAIS QUEBRA: Fuja do discurso "plano revolucionário
que paga mais", pois toda empresa séria paga aproximadamente o mesmo, para
manter-se competitiva e saudável financeiramente. Quando uma empresa diz que
paga muito mais que as outras, significa que concentra as comissões nos níveis
elevados e paga quase nada para a maioria, perdendo a sustentação no tempo.
7) A SEGURANÇA ESTÁ NA BASE: Para uma empresa de MMN durar
mais de cinco anos e justificar-se como oportunidade de carreira legítima,
viável economicamente perante os órgãos reguladores e a sociedade, a comissão
de revenda deve ser generosa, para que todos os participantes sejam capazes de
operar no azul por seu próprio mérito, sem depender de mais ninguém.
8) LIDERANÇA DE RESPEITO: Empresas sérias e o mercado
valorizam quem merece. Portanto, pague o preço de desenvolver as habilidades de
um líder exemplar e cuide da reputação como seu maior patrimônio.
Relacionamentos de confiança são inegociáveis. Sua ética pessoal será testada
com desafios cada vez maiores. Esteja preparado para superá-los!
Sergio Buaiz é Publicitário, Consultor e Treinador de Vendas
Diretas há mais de 15 anos, tendo se especializado em Marketing de Rede e
Liderança. Tem quatro livros e centenas de artigos publicados, no Brasil e no
exterior. Fundou o movimento Marketing DO BEM, em defesa da Venda Direta
honesta e livre dos esquemas piramidais insustentáveis.
http://www.marketingdobem.com.br
Fonte: Administradores
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