Com uma visão pouco comum no mercado, empreendedora do Vale
do Silício busca nas falhas do capitalismo explicações e saídas para os
problemas enfrentados pelas empresas
Em 2008, com a crise financeira, muitos intelectuais se
perguntaram se o capitalismo ainda funcionava, e a pergunta continua ecoando
nos meios acadêmicos, bem como no próprio mercado. No mês passando, buscando
responder essa questão, Sramana Mitra - empreendedora do Vale do Silício e
fundadora do projeto One Million by One Million (1 milhão por 1 milhão), que
ensina empreendedorismo na internet - publicou um texto na Harvard Business
Review baseado em suas pesquisas sobre empreendedorismo e alguns fatores que
aponta como falhas sérias do modelo econômico.
De acordo com Mitra, dois problemas se destacam. Primeiro,
“sequestro” do capitalismo por especuladores. Segundo, o fato de o sistema
produzir muita riqueza no topo da pirâmide, gerando uma distribuição desigual
no restante da sociedade. Ambos problemas resultaram, segundo Mitra, em uma
ordem mundial instável e volátil, que faz os mercados se chocarem
periodicamente, levando “à carnificina financeira e ao sofrimento humano em
larga escala”.
Para solucionar essa situação, a autora explica que é
necessário utilizar o príncipio fundamental do capitalismo - a criação do valor
de que as pessoas estão dispostas a pagar - e aplicar no meio da pirâmide em
uma escala global. Em outras palavras, ela ressalta que a sociedade precisa de
empreendedores dispostos a criar produtos e oferecer serviços direcionados à
demanda de consumidores específicos. Mitra ressalta a necessidade de se ensinar
como criar um negócio que pode se tornar sustentável e lucrativo e criar empregos.
"Muitos falam sobre o papel que os pequenos negócios
desempenham nas economias em desenvolvimento e na criação de empregos.
Entretanto, apenas nos Estados Unidos, 600.000 negócios morrem todos os anos.
Essa mortalidade precoce é produto da ignorância sobre como construir e
sustentar negócios", explica.
Sramana Mitra afirma que um dos motivos por trás dessa
mortalidade é que as pessoas alimentaram o mito de que empreendedorismo
significa capital de risco. A mídia, escolas de negócios, incubadoras - toda
parte do ecossistema que deveria ensinar as boas práticas nos negócios -
reforçam essa falácia.
A realidade é que aproximadamente 99% dos empresários que
procuram financiamento é rejeitado.
Existem duas razões primárias por trás desse fenômeno. O
primeiro é que a maior parte das empresas iniciantes que estão procurando um
capital de risco são muito pequenas e possuem um crescimento muito lento para
se encaixar nesse modelo de risco. O segundo é que os empreendedores procuram o
capital de risco muito rápido, sem fazer a tarefa de casa adequada.
Em seu artigo, a empreendedora faz questão de ressaltar que
há um método para o que ela chama de “a loucura do empreendedorismo”. Segundo
ela, enquanto os “traços de personalidade” (coragem, resiliência e
persistência) não podem ser ensinados, o método de construir um negócio pode.
Aliás, deveria ser ensinado não apenas em instituições de elite, mas em todos
os níveis da sociedade, em massa.
"Se nós podemos democratizar a educação e a incubação
de empreendedores em escala global, eu acredito que não apenas diminuiria essa
mortalidade, como criaria um sistema econômico mais estável", afirma
Mitra. Isso porque o meio da pirâmide - um grande número de pequenos e médios
empresários - estaria fora do alcance dos especuladores.
Todo começo das startups está focado no capital de fundação
do negócio. Como resultado, menos de 1% dos empreendedores do mundo tem acesso
a apoio inicial. A tese da autora é de que os outros 99% dos empreendedores
confiam no Capitalismo 2.0: um sistema de distribuição democrática do
capitalismo. Focado em criar valor, gerar riqueza, criar empregos, mas não tão
focados em especular. Para ela, o capitalismo mercantil chegou ao seu limite.
Democrático, o capitalismo distribuído vai permitir que o pêndulo gire e dê
poder aos criadores de valores.
A boa notícia é que na era da conexão banda-larga, você pode
acessar a internet para aprender a construir negócios. "Vamos dizer que
ensinemos negócios a milhares de empreendedores nas próximas décadas. Nós
ensinaremos a eles fundamentos como empreendedorismo = consumidores + receitas.
Financiamento é opcional", escreveu Mitra.
Da África para a Indonésia, da Colômbia para o Maine (estado
norte-americano), gerações de empreendedores se proliferam. Eles possuem a
oportunidade de acessar uma certa metodologia e conhecimento. O que você acha
que vai acontecer?
“A mortalidade precoce das empresas vai cair. Um grande
número de empreendedores vai aprender como fazer o negócio crescer. Um
empresário que teria feito U$ 1 milhão em um ano, com o suporte necessário,
talvez fizesse U$5 milhões”, afirma a empreendedora.
Fonte: Administradores
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