Em suma, motivos justos para se protestar é que não faltam.
É preciso mudar. Mas para isso é fundamental entender, e muito, de mudança
Sonhos não se transformam em realidade sem obediência aos
princípios da boa administração. Ou pior do que isto, podem se transformar em
decepção e, até mesmo, em pesadelo. O povo estava e está insatisfeito com a
corrupção, com corruptos ocupando cargos públicos, com o superfaturamento, a
malversação do dinheiro público, com obras públicas sem utilidade e qualidade,
que são inauguradas várias vezes apenas para propaganda política, com o custo
de vida elevado, com os altos impostos sem nenhuma contrapartida, com a falta
de segurança, com a precariedade dos hospitais públicos, a falta de escolas
públicas de nível, com juros bancários estratosféricos, com políticos
legislando em causa própria. São muitos os problemas, e eu não tenho a menor
dúvida de que você poderá acrescentar, pelo menos, mais uns 10 itens a esta
lista.
Em suma, motivos justos para se protestar é que não faltam.
É preciso mudar. Mas para isso é fundamental entender, e muito, de
mudança. Existem 3 tipos de mudanças:
equivocadas, falsas e efetivas.
Mudanças equivocadas
São frutos, entre outras coisas, da incompetência e de
decisões precipitadas e mal tomadas. Assim, por exemplo, faça uma lista dos 39
ministérios do governo federal e verifique, caso a caso, se os ministérios
estão sendo ocupados por pessoas competentes ou as nomeações foram apenas
decorrentes de conchavos políticos? E como se chegou a este número de
ministérios? E é possível alguém administrar com eficácia e eficiência 39
ministérios?
E plebiscito para a reforma política é o melhor caminho?
Foram explicitadas outras alternativas, feitas análises de prós e contras de
cada alternativa, estabelecidos critérios de decisão? Ou foi uma decisão tomada
na base do impulso e que se quer impor? O fato é que uma decisão é tão boa
quanto a melhor alternativa que se conseguiu formular e tomar decisão com
competência e sabedoria não é fácil. E decisões mal tomadas podem levar a
soluções do tipo “a emenda foi pior do que o soneto”.
E no legislativo? Existem pessoas ocupando funções
importantes e sendo processadas no STF por falsidade ideológica, peculato e
utilização de documentos falsos?
Mudanças falsas
Tem a ver com uma frase do escritor italiano Giuseppe de
Lampedusa no seu livro O Leopardo: “Para que as coisas permaneçam iguais, é
preciso que tudo mude”. Mas para que tudo mude apenas nas aparências, vale o
princípio de que “a versão é mais importante do que os fatos”. E aí, tome de
agência de propaganda e marketeiro.
Uma outra base para as mudanças falsas é a dialética
erística do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, que mostra “como convencer
qualquer pessoa de qualquer coisa, mesmo se estando errado”.
Mudanças efetivas
O fato é que efetuar mudanças efetivas e verdadeiras é muito
difícil porque, entre outras coisas, o que está em jogo vai mexer com
interesses de partes muito poderosas, que farão tudo para continuar com seus
privilégios. Não bastam apenas boas intenções, ou exigir, é preciso ter muita
competência, determinação e vontade política. Pelo menos cinco coisas são
fundamentais: liderança, projetos de qualidade, organizações eficazes e
eficientes para implementar as mudanças, estoque de competências e recursos.
Sem liderança não se tem direção e sentido, coordenação e motivação. E sem
projetos de qualidade, pode-se exigir a vontade “escolas, hospitais, segurança
no padrão FIFA”, que nada vai acontecer. Mas uma vez que se tenham projetos de
qualidade, vem a outra questão: as administrações federais, estaduais e
municipais dispõe de organizações eficazes e eficientes para implementar as
mudanças? E para que as organizações funcionem, são necessários não apenas
processos e estruturas administrativamente consistentes, mas também um estoque
de competências bastante considerável. E como estamos neste aspecto? As
administrações públicas dispõem deste estoque de competências? Como são feitas
as admissões e os treinamentos dos funcionários?
De qualquer forma, para uma mudança efetiva é importante um
bom diagnóstico e para isto informação é fundamental. E neste sentido, é sempre
bom lembrar Disraeli que dizia: “Existem três tipos de mentiras: as simples, as
deslavadas e as estatísticas”. E como andam as nossas estatísticas e
informações? Ter informações precisas pode ser bastante difícil. Basta lembrar
do caso do Banco Nacional que depois de quebrar verificou-se que vinha
adulterando os seus balanços por quase 10 anos e, o que era pior, é que tinha
os seus balanços auditados por uma empresa que era considerada idônea e
competente. E assim, estamos diante de um problema muito sério que é o de como
vamos abrir as inúmeras caixas pretas existentes no Brasil.
Neste país existem muitas caixas pretas. Desde a estrutura
de custos dos ônibus até uma caixa preta muito maior que é a da dívida pública,
que neste momento está na casa dos 2 trilhões de reais, praticamente o mesmo
montante do orçamento federal aprovado para 2013 que foi de 2,2 trilhões de
reais. E segundo algumas informações que andei coletando pela internet, este
ano vão vencer 900 bilhões entre o principal e juros desta dívida, sendo que os
juros correspondem a 180 bilhões. E não será amortizado nada do principal e no
máximo serão pagos 100 bilhões de juros, ou seja, o que vai ser pago não vai
cobrir nem os juros da dívida. Logo, como de costume, a dívida vai ser rolada e
continuar crescendo como uma bola de neve. E no orçamento federal quanto foi
alocado para a educação e para a saúde? 71,7 bilhões para educação e 87,7
bilhões para a saúde. Portanto, estamos precisando de auditoria, de identificar
quem ganha com esta situação e efetuar a renegociação da dívida.
E tudo isto, entre muitas outras coisas, resulta num PIB com
um crescimento mínimo, o chamado pibinho, e em termos de IDH - Índice de
Desenvolvimento Humano, estamos na 85ª posição mundial. Mas em termos de juros
reais estamos muito bem. O Brasil tem o 4º maior juro real do mundo. Em suma, é
como já dizia Shakespeare: "Tem algo de muito podre no Reino da
Dinamarca”.
O fato é que os problemas do Brasil são estruturais
sistêmicos e nada vai se resolver com visão tapa buraco de curto prazo, com
políticas econômicas consumistas e imediatistas e com corrupção.
É preciso dar direção e sentido. E nada melhor do que buscar
inspiração em Adam Smith, o pai da economia: “A riqueza de uma nação está, em
última análise, no conhecimento e no talento de seu povo, bem como na sua
capacidade para organizar e aplicar o conhecimento, utilizar e desenvolver com
eficiência os recursos humanos”.
E aí surge uma pergunta: como estamos em termos de
desenvolvimento de ciência e de tecnologia? Seremos tão somente exportadores de
matéria prima e de produtos agropecuários? Nada contra, mas um país que não
gera conhecimento é um país que está sempre a reboque.
E suma, lamento informar que se os princípios da
administração e da economia inteligente, que levem em consideração aspectos
estratégicos, táticos e operacionais, forem desconsiderados, as manifestações
que estamos presenciando atualmente, não vão passar de sonhos de uma noite de
verão. E ai vai continuar valendo a velha expressão: “Tudo como dantes no
quartel de Abrantes”.
Fonte: Administradores
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