Novas gerações querem que governo se adapte à nova era
digital e adote novas formas de comunicação e participação
São Paulo - A tatuagem de Che Guevara nas costas do
fotógrafo Douglas Theodoro prenuncia o discurso revolucionário de alguém que
participou de todas as manifestações de junho em São Paulo sem se
"ajoelhar para ninguém".
Diferentemente do homem cuja imagem está em suas costas,
Theodoro não faz parte de nenhum partido ou movimento organizado. Também nunca
pegou nem tem intenção de pegar em armas. Quer, no entanto, mudar a realidade.
As manifestações de rua, segundo ele, foram só o começo. A
verdadeira "revolução", diz o fotógrafo, será a criação de uma
democracia digital.
"Há anos a gente está gritando na internet e ninguém
escuta, porque o governo não sabe nem abrir o Facebook", afirma Thodoro,
de 34 anos.
"Os políticos estão perdidos porque não entenderam que
a praça pública não é em Atenas, é na internet. Por isso a gente foi pra rua,
para eles aprenderem a respeitar essa voz."
O fotógrafo não está sozinho. As massas voltaram para casa e
o clima tenso das manifestações já arrefeceu nas ruas da capital paulista, mas
os jovens ativistas da era digital continuam a chamar os políticos para a briga
na internet, debatendo nas redes sociais, organizando eventos e assinando
petições online. "Se o governo conversasse com a gente onde nós estamos,
ninguém precisaria ir à rua para se manifestar", diz o amigo Pedro Soler,
escritor de 23 anos. "Ninguém quer tomar o poder nem fazer guerra civil.
Queremos ter voz e queremos ser ouvidos, apenas isso."
O sistema atual de participação popular na política está
longe de satisfazer aos anseios das novas gerações, que vivem conectadas à
internet 24 horas por dia, via laptops, tablets e smartphones
"Ninguém aguenta mais esperar quatro anos para apertar
uns botões e eleger alguém que supostamente vai falar em nosso nome por mais
quatro anos. Eu quero dar minha opinião todos os dias, a hora que eu
quiser", diz Theodoro. "O que temos hoje é uma democracia analógica
tentando dialogar com uma geração digital."
A única maneira de acalmar as ruas, dizem, é digitalizar a
democracia. Para isso, propõem a criação de uma "praça pública
digital" - o Fórum Cidadão -, na qual a população poderia debater e votar
assuntos de interesse nacional. Algo como um híbrido de Avaaz (comunidade de
petições online) e Facebook, só que com validade política e jurídica, de modo
que os debates e votações realizadas ali tivessem influência direta na
formulação de políticas públicas.
Na prática, seria uma plataforma online para realização de
plebiscitos e referendos, com computadores e smartphones no lugar das urnas
eletrônicas. "Qualquer pessoa com acesso à internet teria uma voz no
Congresso", diz Theodoro.
Seja qual for o sistema operacional, a ideia de uma
"democracia digital" já conta com apoio de figuras importantes.
Várias fontes ouvidas pelo Estado disseram que a proposta
não só é viável, como desejável. Entre elas, o presidente nacional da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Coelho. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
Fonte: Exame
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