O mercado prefere quem tem mais de uma empresa no currículo,
mas é possível ter vida longa num mesmo lugar sem ficar com o estigma de
acomodado
São Paulo - Até bem pouco tempo, os recrutadores olhavam com
desconfiança o candidato que chegava à entrevista de emprego trazendo um
currículo com passagens rápidas (menos de dois anos) por diferentes empresas. O
paradigma era: quanto mais tempo de casa, maior a experiência do profissional.
Essa regrinha deixou de ser um mantra para os RHs e
headhunters. O profissional em alta hoje é aquele que tem um currículo repleto
de experiências diferentes, tendo passado por mais de uma companhia. Essa
bagagem é uma espécie de atestado de que a pessoa está preparada para enfrentar
os diferentes desafios que o trabalho impõe e de que tem habilidade para
trabalhar em diferentes culturas organizacionais.
A preferência por gente mais rodada começa a ser um entrave
para quem permanece muitos anos numa única empresa. "Fazer carreira em um
mesmo lugar não chega a ser problema, mas pode dar a impressão de que a pessoa
é acomodada", diz Paulo Bivar, sócio-gerente da filial de Recife da
consultoria de recrutamento Asap.
"Um recrutador vai desconfiar da capacidade de
adaptação da pessoa e da disposição que ela tem para aceitar novidades",
diz. A questão é: se você está há muito tempo na mesma companhia ou na mesma
função, o que fazer para não passar ao mercado a impressão de estagnação?
Se isso está acontecendo com você, é importante mostrar que
sua carreira não estacionou. O primeiro passo é combater a desatualização e
mostrar que não está por fora das melhores práticas do mercado. No dia a dia,
isso se faz adquirindo novos conhecimentos que vão combater a desatualização.
Trace uma estratégia: defina uma área em que você pretende
se desenvolver e mapeie quais são os cursos disponíveis. Comece com um de curta
duração e identifique quem são os protagonistas desse mercado. A partir daí,
aplique esse conhecimento no trabalho e, se for o caso, invista numa formação
mais completa na área. "O perigo é achar que não há mais nada a aprender
quando se tem algum tempo de casa", ressalta a coach Eliana Dutra, do Rio
de Janeiro.
Para quem está muitos anos num mesmo cargo ou numa mesma
empresa, é importante combater a acomodação. Isso se faz procurando desafios
constantemente, o que significa se apresentar para participar de novos projetos
e pedir para mudar de área como forma de ganhar experiências diferenciadas.
"Quanto mais se
reinventar, melhor", diz Karin Parodi, diretora da consultoria Career
Center, de São Paulo. A pessoa, entretanto, não deve se sentir na obrigação de
trocar de emprego. "Mas tem o dever de fazer uma reflexão sobre os rumos
da carreira de seis em seis meses pelo menos", ensina Karin.
O contato com pessoas de outras companhias precisa ser
cultivado. Isso vai levar o profissional a enxergar horizontes diferentes dos
quais está acostumado e estar por dentro de tendências.
Hoje, as redes sociais são uma porta de entrada para todo
mundo que planeja trocar experiências. Conhecer gente de fora é importante para
não perder de vista termos de comparação: como está seu salário em relação ao
mercado e como anda sua empregabilidade.
Esse esforço para entender a dinâmica do mercado de trabalho
vai evitar também problemas de networking, como restringir o círculo de amizade
aos colegas de trabalho. "Corre-se o risco de cair no isolamento
profissional", destaca Eliana.
Resumindo: comece pelas redes sociais, mas estabeleça
relacionamentos reais participando, por exempo, de congressos ou de grupos
profissionais. "A experiência é uma moeda de troca que está à disposição
do profissional", explica Eliana.
O gaúcho Moacir Gomes dos Santos, de 49 anos, gerente de
processos da Cortel, administradora de cemitérios, de Porto Alegre, é exemplo
de profissional que perdeu contato com o mercado e sua carreira sofreu danos
por isso. Após passar 15 anos como gerente administrativo da rede varejista
Sonae, adquirida pelo Walmart em 2005, Moacir levou um ano para se recolocar
quando foi demitido.
Na época, sua rede de contatos se resumia aos fornecedores
da empresa. "Não acreditava ser necessário ir além da minha rede de
contatos", diz Moacir. "Senti dificuldade para disputar processos
seletivos fora do setor e os recrutadores perguntavam por que tinha ficado
tanto tempo num mesmo lugar", conta.
Começou a resolver o problema fazendo um curso de gestão de
empresa. Hoje, para manter contato com o mercado, participa de entidades como a
câmaras de comércio, com o objetivo de conhecer gente nova. E, sempre que pode,
ele marca almoço com antigos colegas.
A carreira precisa constantemente de atualização e o maior
risco de ficar muito tempo no mesmo lugar é perder a capacidade de se comparar.
Por isso, siga a sugestão da coach Eliana Dutra e se faça sempre a mesma
pergunta perturbadora: "Se eu for demitido, consigo me recolocar?",
alerta. Responda com sinceridade e avalie seu passe no mercado.
Fonte: Exame
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