Quando o estereótipo não condiz com a realidade
Há algum tempo se fala em geração Y, de como as pessoas
desse grupo são ambiciosas, exigentes, como questionam tudo e têm pressa em
ocupar posições de liderança, exigindo razões e recompensas. É comum ouvir que
buscam qualidade de vida acima de tudo, que não têm lealdade pelas empresas e
nem o comprometimento necessário para assumir responsabilidades mais complexas.
Mas quanto disso tudo é real ou apenas mito? Ao tentar
encontrar esse típico profissional da geração Y, começamos a perceber que esse
era um retrato que não condizia tanto com a realidade. Vimos também que
pesquisas atuais sobre o tema revelam como o senso comum acabou reforçando
ideias, aceitas como verdades, sem uma análise mais apurada.
Estudos recentes mostram que esses profissionais não são tão
diferentes assim dos jovens da geração X ou Boomer. A pesquisa “The Generation
Myth”, do Australian Institute of Management, perguntou para mais de mil
colaboradores: “o que faz um ambiente ser bom de trabalhar?”. De 95 fatores
testados, a resposta unânime de todos os colaboradores independentemente da
idade foi: “uma gestão capaz” que tem confiança e respeito pela competência do
colaborador. Isso demonstra que pessoas de todas as gerações querem ter como
líderes pessoas em quem possam confiar e se apoiar.
Outra revelação feita pela pesquisa “Generation Y: Realising
the Potential”, realizada pela ACCA com mais de 3.200 pessoas de 22 países, é
que remuneração e salário, ao contrário do que se pensa, não é o aspecto mais
valorizado por esta geração. O principal fator de retenção para essas pessoas
são as oportunidades de aprendizagem oferecidas pela empresa. Isso indica como
todo mundo quer aprender – mais do que qualquer outra coisa. No fundo, as
pessoas querem aprender coisas relacionadas ao seu trabalho, não à sua geração.
Esses dados mostram como todas as gerações basicamente
querem e valorizam coisas parecidas. A questão é que as prioridades,
expectativas e comportamentos variam visivelmente. Com relação a mudanças, por
exemplo, pessoas de todas as gerações acreditam que de alguma forma podem ser
afetadas negativamente. O que significa que gestores gostam tanto de mudanças
quanto estagiários.
É claro que existe sim uma diferença entre as gerações. Não
se trata de negar isso, mas de constatar um certo exagero na forma como a
geração Y vem sendo retratada. Os estereótipos criam expectativas que acabam
influenciando a forma de perceber certos comportamentos. Além disso, o jeito de
ser das pessoas muitas vezes pode estar mais relacionado à fase de vida do que
a características específicas de uma geração. Ou seja, existem atitudes que são
comuns em jovens – seja de que geração for. Nesse sentido, um profissional da
geração Y pode demonstrar tanta ansiedade quanto um Boomer quando estava em
início de carreira.
As circunstâncias, o contexto, também exercem influência no
comportamento das pessoas – e esse é um fato que não pode ser subestimado.
Atualmente, com tanta informação ao alcance da ponta dos dedos, não é difícil
entender que essa geração tenha expectativas tão altas em relação ao que o
mundo pode oferecer para suas vidas na esfera pessoal e profissional. Mas isso serve
para qualquer geração, porque o ritmo produzido pela tecnologia já afetou a
todos. Hoje, qual geração não está conectada acessando a internet e se
comunicando via SMS? Ninguém mais trabalha sem email ou sem celular. Então, o
rótulo de “interconectados” já não faz mais sentido para caracterizar apenas
aqueles que pertencem à geração Y.
No fundo, a geração é apenas uma lente, um dos ângulos pelos
quais é possível analisar as questões do ambiente de trabalho. O cuidado que se
coloca é não tratar jovens como uma classe diferente, não julgar os outros
baseados apenas em idade, pois essas são atitudes que não favorecem a
diversidade.
É preciso lembrar que todos os colaboradores, jovens e mais
velhos, de algum modo competem por reconhecimento e recursos e que a maioria
reclama de colegas de outras gerações. Mas quando percebemos que as pessoas no
trabalho buscam mais ou menos as mesmas coisas, começamos a entender que o
conflito entre gerações é justificativa fácil para não enfrentar outros
aspectos que realmente desestabilizam o ambiente de trabalho – como uma
liderança despreparada, por exemplo.
Para promover um ambiente de trabalho construtivo, temos que
entender que é possível trabalhar com (ou fazer a gestão de) pessoas de todas
as gerações efetivamente. Basta buscar a conexão e a troca por meio do que há
em comum entre os profissionais. O ideal é aproveitar as melhores qualidades de
cada geração, aprender continuamente de pares e colegas mais experientes e, ao
mesmo tempo, criar oportunidades para que os jovens possam descobrir suas
aspirações e limite.
Fonte: Administradores
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