Assumir riscos requer muita autoconfiança, mas é preciso
lembrar que o mundo dos negócios não é um arco-íris com potes de ouro
São Paulo - Eike Batista, que sonhava em se tornar o maior
bilionário do mundo e batizou suas empresas com a letra “x” para representar a
multiplicação da riqueza, vê acionistas
o abandonarem e seu patrimônio despencar em função de promessas não cumpridas.
Seus críticos afirmam que, entre seus erros, está o excesso
de otimismo, que o levou a assumir riscos elevados e a contagiar os demais. No
dia-a-dia de um gestor, há um momento em que o otimismo passa da conta e começa
a atrapalhar? Especialistas dizem que sim.
É consenso que o otimismo é uma característica necessária
aos homens de negócio, principalmente em mercados que exigem inovação. Porém, é
preciso cautela.
“O otimismo é um valor importante para o negócio; são os
ousados que têm poder de recompensa grande. Mas, às vezes, o executivo toma
decisões fora da sua alçada, não faz uma análise adequada de mercado e da
própria empresa. Ele confia tanto tanto em si, que não calcula os riscos”,
avalia a coordenadora de Carreiras do Instituto IBMEC, Fernanda Schroder.
Alguns sinais de que o otimismo do gestor está exagerado
podem ser observados de acordo com os resultados da empresa. Em caso de
empresas de capital aberto, uma grande venda de ações por parte dos
investidores ou uma queda no valor dos papéis pode ser um indicativo de que
algo não está dando certo.
Alterações no fluxo de caixa (quando a empresa gasta mais do
que arrecada, por exemplo) e queda na crença dos fornecedores também devem ser
observadas. Outro sinal que deve ser visto com atenção é quando a empresa
encontra dificuldades de concretizar seu plano de negócios.
“Quando a realidade mostra que aquilo em que eu acredito não
está se concretizando, pode ser um sinal de que estou sendo muito otimista. Se
acontece algo no mercado que faça o gestor mudar a sua rota planejada e mesmo
assim ele consegue andar para frente, está ok. Se ele não consegue, é preciso
saber enxergar um ‘plano B’”, diz o professor do Insper, Aloisio Buoro.
Para não cometer o erro de ser muito otimista, o executivo
pode tomar alguns cuidados.
1 - Analisar o mercado em que se pretende investir
É importante que o gestor faça uma análise financeira e de
mercado, elabore um bom plano de negócios e faça um “check-list” para ver a
viabilidade do negócio. “É preciso conhecer o ramo em que se pretende atuar.
Isso é fundamental”, diz o professor da Escola de Negócios da Fundação Getúlio
Vargas Djair Picchiai.
2 - Utilizar indicadores para verificar os resultados da
empresa
Piccihai também recomenda que os gestores não confiem
somente no seu “feeling”, mas que utilizem indicadores de fatores balanceados,
como por exemplo o BSC (Balanced Scorecard), metodologia que mede o que a
empresa aprende, a satisfação do cliente e os desempenho dos processos.
3 - Organizar uma planilha de finanças
Segundo o professor de estratégia da Fundação Dom Cabral
Paulo Vicente Alves, calculando a taxa interna de retorno e o valor presente
líquido, é possível identificar se há confiança demais em um negócio. “Se a
taxa interna de retorno estiver acima de 40 a 50%, geralmente é sinal de muito
otimismo”, ressalta.
4 - Realizar testes de sensibilidade
Alves também recomenda experimentar algumas mudanças para
verificar a sensibilidade no resultado. “Aumenta-se 10% do custo, ou 10% da
receita e vê-se se os resultados são sensíveis a isso. Se o resultado mudar,
indica que o negócio tem um certo risco”.
5 - Variar os segmentos para diluir o risco
É a velha premissa de “não colocar todos os ovos na mesma
cesta”. O gestor pode tentar variar os negócios da companhia, para não ficar
preso aos riscos de uma determinada atividade. “É o caso da Pepsico. A Pepsi
sabe que depende muito da bebida carbonada. E esse mercado pode ter variações
muito grandes se as pessoas disserem que faz mal à saúde. Então ela também tem
a Pizz Hut e Elma Chips”, exemplifica Alves.
6 - Considerar que é difícil prever a demanda
O professor da Fundação Dom Cabral também alerta para o
cuidado de não se fazer previsões muito otimistas para a demanda. “A Kodak, na
década 90, não previu o risco (de ter a demanda fortemente diminuída pelo uso
das câmeras digitais e não mais de filmes) e caiu”, diz.
7 - Evitar agir impulsivamente e consultar um olhar externo
Fazer um planejamento, mensurar os resultados e não agir
somente de forma emocional também são pontos importantes para não cair no
otimismo exagerado, segundo a coordenadora de Carreiras do IBMEC, Fernanda
Schroder. Mas como o gestor pode avaliar se está sendo impulsivo?
O professor do Insper Aloisio Buoro diz que um ponto que
pode ajudar nessas horas é recorrer às consultorias. “O que acontece é que ele
(o executivo) tem uma crença tão grande no seu negócio, que às vezes tem
dificuldade de enxergar que seus planos estão dando errado. Quem está fora do
negócio percebe melhor”. Às vezes, o recado de quem está de fora é bem claro.
Basta ver o que os investidores estão dizendo a Eike agora.
Fonte: Exame
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