As empresas ainda adotam organogramas que relembram a
revolução industrial do século XVIII
Inovação, ao contrário do que se pensa, é bem mais do que
criatividade. A inspiração ajuda muito, mas inovação não ocorre por acaso.
Percebo que muito desse papo de “inovar, fazer diferente, modernizar”, na
maioria das empresas brasileiras, e até no mundo, não passa de retórica ou no
máximo boa intenção. Em sua grande maioria não se faz nada ou quase nada na
estrutura de gestão para criar um ambiente propício. Na verdade, as empresas
ainda adotam organogramas que relembram a revolução industrial do século XVIII.
Uma verdade incontestável é que boa parte da inovação nasce
de uma necessidade. Quem vivencia o momento dessa necessidade na pele
normalmente imagina as mudanças necessárias para sair dessa situação. É
possível, porém muito raro, que a inovação venha de cima para baixo. Para
entender como criar um ambiente propício à inovação, vamos ver como é um
organograma tradicional. Ele cria departamentos que agrupam funções
semelhantes. Aparentemente isso é muito lógico, como se pode ver no exemplo
abaixo:
Nesse modelo, se a empresa produz quatro produtos
diferentes, Produção fabrica todos eles, Suprimentos compra matérias primas
para todos, Vendas vende todos e Assistência Técnica faz o pós-venda dos
quatro.
Isso é o que estamos acostumados hoje em dia. O pensamento
é: já que temos que produzir quatro produtos, vamos criar uma grande área de
produção que faça tudo isso tudo, otimizando os processos e os custos, e assim
por diante para os outros departamentos. Coloca-se então um gestor para cuidar
de cada galinheiro e cobra-se eficiência na execução das suas missões
departamentais ou no nosso exemplo, produzir, comprar, vender e atender.
Os problemas gerados pela dificuldade de comunicação e
principalmente de baixa velocidade de reação começam a ficar claros quando
entrevistamos funcionários medianos de cada uma dessas áreas. Algumas respostas
muito comuns são: “Se o pessoal da produção mudasse essa pequena coisinha,
teríamos muito menos problemas aqui na assistência técnica...”; “Se eles lá em
suprimentos escolhessem uma outra matéria prima que custa 1% a mais,
venderíamos 20% a mais determinado produto...”; “Se a produção mudasse sua
escala poderíamos comprar as matérias primas 10% mais em conta...” E por aí
vai.
O problema é que qualquer uma dessas evoluções ou inovações
tem um grande percurso a percorrer antes de ser adotada na prática, passando
por estruturas, hierarquias, corporativismos, aprovações e egos de gerentes e
diretores. Isso acontece porque cada departamento só se preocupa consigo mesmo.
Isso acontece por culpa dos próprios diretores, que normalmente criam
indicadores financeiros ou operacionais para controlar essas áreas, como
“Margem de contribuição”, “SLA de atendimento”, “Metas de Vendas” e coisas
assim. Nada de errado com os indicadores em si, mas sim com o contexto no qual
eles são aplicados.
Então, como seria uma ideia de estrutura onde a inovação
percorresse um caminho mais curto e mais provável de virar realidade? Uma das
formas é a organização por células. Neste modelo, promovemos um realinhamento
da gestão que antes era focada na performance do departamento para um novo
objetivo: o cliente. A chave é a autonomia - dar poder e responsabilidade a
quem tem o problema e sabe resolver. O mesmo organograma do nosso exemplo,
agora por células, ficaria assim:
Dentro de cada célula de produto temos uma miniatura de cada
área do organograma inicial. Isso quer dizer que a equipe do Produto 1 tem tudo
ao seu alcance, ali dentro de sua célula: Produção, Suprimentos, Vendas e
Assistência Técnica.
A organização física das pessoas deve seguir esse conceito
também. Em outras palavras, quem presta assistência técnica do Produto 1 senta
ao lado de quem gerencia a produção do mesmo. Isso faz com que as melhorias
percebidas pelo pós-vendas sejam avaliadas e aplicadas quase que imediatamente
na próxima leva de produção. Isso melhora a percepção do consumidor, aumenta
vendas, cria um contexto favorável para os indicadores citados anteriormente e
desincha a estrutura! O papel da direção da empresa passa a ser sustentar o
branding e atuar através de políticas para que as células, ainda que autônomas,
possuam uma cara semelhante perante o mercado, reforçando a definição de
processos.
Em alguns segmentos de mercado isso não é nenhuma novidade.
Há décadas, em grandes agências de publicidade, quando se ganha uma conta nova,
cria-se uma pequena agência dentro da agência com áreas de atendimento,
criação, mídia e o que mais for necessário, porém todos focados em atender um
cliente apenas. Da mesma forma, é mais comum que a inovação surja em empresas
pequenas do que em grandes. Richard Branson, um dos maiores empresários do
planeta e dono de centenas de negócios, disse certa vez: “eu não sei trabalhar
em empresas com mais de 20 pessoas”. Na verdade ele gosta de grupos onde a
velocidade e a inovação aconteçam.
Uma mudança dessas pode parecer muito radical em uma empresa
estabelecida - e é. Mas isso não pode ser um impeditivo. Existem formas de
viabilizar uma mudança gradual, e principalmente, o modelo deve ser avaliado da
ótica do seu cliente - cada caso é um caso. Que tal tentar uma fórmula
diferente em seu próximo produto ou projeto? Possivelmente o resultado vai lhe
surpreender!
Fonte: Admininstradores
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