O que os erros e os acertos do empresário Eike Batista podem
ensinar para sua vida profissional
São Paulo - Mais do que ninguém, me pergunto onde errei”,
escreveu o empresário mineiro Eike Batista, de 56 anos, em artigo publicado no
jornal Valor Econômico, em meados de julho. “Falhei e decepcionei muitas
pessoas, em especial por causa da reversão de expectativas da OGX.”
Eike se refere a sua empresa de petróleo cujo valor das
ações caiu 90% de um ano para cá. “O fraco desempenho da OGX levou a um déficit
de credibilidade com o qual nunca me deparei”, disse o empresário.
Até então, Eike era considerado o exemplo mais bem-acabado
do empreendedor de sucesso de um Brasil que crescia vertiginosamente. Suas
promessas, no entanto, deixaram a desejar — uma falha comum a alguns
profissionais.
O abismo entre o discurso de Eike e o resultado pífio da OGX
gerou uma crise de desconfiança que se estendeu para as outras companhias do
grupo EBX, que reúne 16 empresas, como a MMX(mineração), a MPX (energia) e a
LLX (logística).
Parece que nem a superstição do executivo em colocar o X no
final do nome de todas as empresas livrou-o do fiasco. Veja o que aprender com
os pontos fortes e fracos de Eike.
Onde ele foi bem
Bem articulado
Em oito anos, Eike conseguiu captar 26 bilhões de dólares em
investimentos para suas empresas, além de 10,4 bilhões de reais financiados
pelo BNDES, o banco do governo federal. Ele usava, acima de tudo, sua imagem de
empreendedor bem-sucedido para negociar.
“Ele é socialmente agradável, fala de arte e música e está
sempre disponível”, diz Luiz Carlos de Queiroz Cabrera, headhunter e colunista
de VOCÊ S/A, que já esteve com o executivo. Ser capaz de vender ideias é a
única forma de conseguir os recursos necessários para colocar os projetos em
pé.
Eike acredita nas próprias ideias e se empenha para
colocá-las em prática. Mesmo diante do momento atual, tem trabalhado para
reverter a situação. Com alguns movimentos, como renegociações em suas
empresas, as ações subiram — ainda que poucos centavos de real.
“Ele se debruça sobre os projetos”, diz uma fonte
próxima a Eike. Profissionais autoconfiantes são mais proativos e mesmo em
períodos
difíceis como agora (baixo crescimento econômico e
orçamentos mais enxutos) contribuem para melhorar o ambiente de trabalho.
Ousado e diferente
Quando Eike lançou o primeiro vídeo institucional,
em 2006, uma frase chamou a atenção: “Irei aonde ninguém vai”. Eike nunca teve
medo de correr risco. “Ele é um cara capaz de fazer coisas ousadas e
diferentes”, diz um headhunter que atende os setores de petróleo, gás, energia
e mineração do Rio de Janeiro.
A capacidade de assumir riscos é essencial para
crescer na carreira. “Ousados são aqueles capazes de experimentar”, diz Mireia
Las Heras, professora da escola espanhola de negócios Iese.
Onde ele foi mal
Tudo por dinheiro
Fontes próximas ao empresário dizem que é comum
ouvi-lo dizer: “Na porta do inferno está escrito ‘It’s all about money’ (É tudo
por dinheiro, na tradução do inglês). Não me venha com esse blá-blá-blá de
liderança”.
“Para ele, não importa a experiência do
profissional, mas sim quanto dinheiro ele pode levar à empresa”, diz uma delas.
Basear a liderança apenas na remuneração pode ser uma armadilha. Segundo Luiz
Carlos Cabrera, se não houver uma proposta de valor, o emprego é visto apenas
como uma alavanca de oportunidades.
Entre junho e julho, cinco membros do conselho de
administração da OGX anunciaram a saída, entre eles Pedro Malan, ministro da
Fazenda de 1995 a 2002. Fontes do mercado afirmam que as saídas foram motivadas
pelo desprezo de Eike ao que as pessoas a seu redor dizem.
“Ele tem um ego muito forte e não cabe mais ninguém em sua
rede de relacionamento”, afirma Luiz Carlos Cabrera. Profissionais
egocêntricos são indesejados no ambiente de trabalho e
acabam isolados — alguns até demitidos.
Excesso de otimismo
Dois anos depois de criar a OGX, em 2009, Eike dizia que em
uma década produziria mais de 1 milhão de barris por dia e que a eficiência o
faria chegar, em apenas dez anos, ao patamar que a Petrobras levou 50 para
atingir. Mas o desejo não foi alcançado. “Eike diz ser o cara do mezanino, que
pega o prédio com a fundação e com o térreo e entrega com o 1º andar”, diz um
coach do Rio de Janeiro.
“O problema é que as pessoas acharam que ele entregaria o
prédio finalizado.” Na hora de vender, é preciso saber se será capaz de
entregar. Caso contrário, a credibilidade vai para o fundo do poço.
Fonte: Exame
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