Especialistas explicam como os pais devem falar sobre o
planejamento financeiro da graduação com os filhos
São Paulo – Muitos pais consideram que a educação é o melhor
investimento que pode ser feito por um filho. Mesmo assim, alguns não sabem
como fazer esse tipo investimento da melhor forma e isso se evidencia quando o
assunto é a entrada na faculdade. Tendo ou não condições de bancar uma
graduação, muitas famílias não planejam esses gastos em conjunto com os filhos,
deixando de conversar sobre que tipo de escola caberia no orçamento familiar e
qual seria a participação do filho no pagamento das mensalidades.
EXAME.com consultou duas especialistas em educação
financeira para famílias para entender como esse tipo de planejamento deve ser
feito, não apenas para que os pais não tenham problemas no seu orçamento, mas
para que eles possam agir da melhor maneira também pensando em como educar
financeiramente seus filhos. Confira as sugestões a seguir.
Quando falar?
Alguns pais podem se questionar se ao falar sobre as
despesas da faculdade antes que a escola termine, eles não estariam antecipando
uma preocupação que os filhos poderiam ter mais tarde. Mas, segundo as
especialistas, esse tipo de assunto deve ser tratado com os filhos desde cedo.
Celina Macedo, autora do livro “Filhos: seu melhor
investimento”, acredita que a partir dos seis anos os pais já podem iniciar
algum tipo de conversa sobre dinheiro com os filhos. “Com seis anos a criança
começa a ter noção de valores. Os pais podem mostrar a conta de luz, de água e
pedir que eles ajudem na lista de supermercado. Por que ir tão longe? Porque se
a criança já está inserida no planejamento familiar desde cedo, a conversa vai
ser muito simples aos 16, 17 anos, quando ela pensar no que vai fazer na
universidade”, diz.
Cássia D’Aquino, consultora em projetos de educação
financeira do Banco Central, Banco Nacional de Angola, BM&FBovespa,
Febraban e United States Agency for International Development (USAID) também
afirma que a conversa sobre os aspectos financeiros da graduação e da carreira
dos filhos é apenas uma pequena parte de todo um processo de educação que os
pais precisam dar início muito antes.
Segundo ela, a partir dos 11 anos, quando os filhos já
começam a ter uma habilidade maior para projetar o futuro, os pais podem
ajudá-los a identificar suas vocações e habilidades. E no segundo semestre do
segundo ano do ensino médio seria um bom momento para uma conversa mais focada
no aspecto financeiro da questão, quando os filhos já podem ter uma noção maior
da carreira que vão seguir.
“Na segunda metade do segundo ano do ensino médio é um bom
momento para a conversa sobre o plnajemento financeiro. Esse momento é
apropriado porque o futuro está ali na esquina. Dali um ano e meio o
adolescente vai mudar sua vida e isso gera uma angústia muito grande. Se os pais
forem bastante delicados e suficientemente presentes, os filhos vão atravessasr
isso com mais serenidade, inclusive para lidar melhor com os aspectos
financeiros”, diz Cássia.
Ambas as especialistas ressaltam a importância de os pais
deixarem o filho tomar a sua decisão, inclusive lembrando que a escolha pode
não ser exatamente cursar uma faculdade, mas abrir um negócio, por exemplo.
E se a faculdade pretendida for cara demais?
Antes de responder a essa questão, Cássia D’Aquino faz um
preâmbulo. Segundo ela, os pais precisam entender que o pagamento da faculdade
não deve e nem pode ser responsabilidade deles, mas dos filhos. “É espantoso
que os pais assumam para si tanta responsabilidade sobre um assunto que deveria
ser problema do sujeito que está entrando na faculdade. Claro que qualquer pai
e mãe tem uma enorme satisfação em poder colaborar para que o filho faça o
curso que ele quer, mas isso é um problema do filho, não dos pais”, afirma.
Isso não significa que os pais devem abrir mão de ajudá-los,
mas devem deixar o filho tomar as rédeas para solucionar a questão. E acima de
tudo, os pais devem ser sempre realistas sobre as possibilidades. “Se o filho
quiser fazer cinema na Califórnia, nessa hora os pais devem dizer: você imagina
que pode estudar na Califórnia, mas já pensou quais passos deve seguir? É muito
mais convidando o jovem a se dar conta de que a vida é muito mais do que só
desejos, é a maneira de realizar os desejos. E desejos sempre esbarram no
dinheiro”, afirma D’aquino.
Para Celina Macedo, os pais devem contribuir para que o
filho entenda que se eles não tiverem condições de ajudá-lo a custear o curso,
ele pode buscar alternativas, por exemplo, tentando uma bolsa na faculdade
pretendida, ou fazendo um estágio.
Caso os pais não tenham condições de ajudar o filho e não
exista nenhuma alternativa viável, seja porque o curso exige dedicação integral
do estudante e ele não poderá trabalhar, ou porque a faculdade não oferece
bolsas, se endividar não deve ser uma opção. Ainda que frustrar a vontade do
filho possa ser muito difícil, é melhor do que dizer sim e embarcar a família
toda em uma situação insustentável.
Mesmo que pais tenham condições, o filho deve colaborar
Por mais que os pais tenham formado uma poupança desde que o
filho nasceu para bancar a faculdade, Cássia D’Aquino afirma que o jovem deve
contribuir com o pagamento para que ele crie uma consciência sobre a
administração de seus gastos e de suas responsabilidades. “Nesse momento os
pais podem ensinar muito mais do que questões de dinheiro, eles podem ensinar o
filho a entender que ele é responsável”.
Celina Macedo acrescenta que, se o pai tem condições e quer
pagar a faculdade do filho, uma alternativa pode ser deixar para o filho
algumas contas da casa e suas próprias despesas. “Os pais sempre devem pensar
em inserir o filho dentro do orçamento familiar e deve haver uma discussão
sobre a forma de colaboração do filho. É salutar a educação financeira nesse
momento, até para contribuir com o sucesso profissional do filho”, diz.
Ela frisa que, além de educar os filhos financeiramente,
essa colaboração também beneficia os pais, que devem pensar no seu próprio
futuro - a aposentadoria. “E os pais não devem usar o dinheiro poupado para a
aposentadoria para pagar a escola do filho, porque isso vai fazer falta. Os
filhos podem ajudá-los depois, mas nem sempre é assim. É como o ditado árabe
diz: ‘Uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de uma mãe' ”, diz
Celina.
Peça ajuda de consultores financeiros e pesquise os custos
dos cursos
O investimento em uma graduação pode ser vultuoso. Por isso,
contar com a orientação de um consultor financeiro pode ser muito importante
para a família. Eles podem orientar que tipo de investimento é o melhor para
esse objetivo, que tipo de ajustes a família pode fazer no orçamento para arcar
com as novas despesas e que tipo de linha de crédito poderia ser contratada
para financiar os estudos, se for preciso.
Além disso, é recomendável que os filhos e os pais pesquisem
juntos os custos dos cursos desejados para analisar se vale a pena cursar uma
faculdade mais cara, ou se seria melhor investir em um curso pré-vestibular
para cursar uma universidade pública. Também é essencial que a pesquisa inclua
uma estimativa dos custos paralelos, com materiais e com moradia, caso o filho
precise mudar de cidade.
Faça uma poupança desde cedo
Ainda que seja muito importante que os filhos participem do
pagamento da faculdade, é recomendável que os pais façam uma de poupança para
os filhos desde cedo, se houver condições para isso.
No entanto, Cássia D’Aquino ressalta que essa poupança não
deve ser feita apenas focando a faculdade. “A poupança deve ser feita para um
horizonte aberto por diversas razões. Porque os pais são mortais e porque na
entrada da vida adulta - se não na graduação, depois - o filho pode precisar do
dinheiro para uma pós-graduação, para abrir negócio ou para comprar um
imóvel", afirma.
Segundo ela, a poupança acumulada durante toda a infância do
filho pode ser usada para o investimento na graduação; mas ainda assim convém
que os pais não enfatizem muito que o investimento foi feito para a faculdade,
para que o jovem seja envolvido no pagamento do curso.
Fonte: Exame
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