Entenda quando a dedicação se torna excesso e você passa a
ser um escravo do trabalho
Você já assistiu ao filme Clube da Luta (Fight Club, 1999)?
Se a resposta for afirmativa, então você conheceu um caso clássico de um
workaholic: Tyler Durden é um funcionário de uma empresa de seguros, sem
família, namorada ou vida social, que passa a maior parte do tempo em aviões,
não dorme e procura preencher a falta de significado da vida com objetos de
decoração. Uma bomba que, a certa altura, explode da pior maneira e de modo que
cause os maiores estragos possíveis.
Apesar de ser um personagem de ficção, Tyler simboliza uma
manifestação indesejada, um apêndice, um efeito colateral do estilo de vida
capitalista. Essa manifestação corresponde aos viciados em trabalho, pessoas
que procuram no emprego o que não encontram no campo afetivo, espiritual e
social.
Workaholic
O termo foi citado pela primeira vez no começo da década de
70, pelo psicólogo americano Wayne Oates, no livro "Confessions of a
Workaholic". A palavra é derivativa da junção work (trabalho) + alcoholic
(alcoólatra). Segundo o professor e coordenador do Laboratório de Pesquisa do
Trabalho da UNB, Wanderley Codo, foi a partir da vivência clínica de pessoas
com características e sintomas semelhantes a viciados que foi elaborado o
conceito.
Sintomas e diagnóstico
Não é difícil identificar um workaholic, mas apenas o fato
de passar muitas horas além do necessário trabalhando, bem como nos fins de
semana, não representa, por si só, um diagnóstico do vício. No entanto quando
essas horas a mais são, na verdade, uma maneira de fugir da vida social, dos
conflitos familiares, conjugais ou de outros aspectos cotidianos, é bom ficar
alerta: você pode ter problemas maiores do que aparenta e, acredite, não vai
querer conviver com eles.
Os sintomas físicos costumam ser bem semelhantes ao de
Tyler. "Eu ficava extremamente cansado, só pensava em trabalhar, tinha
dificuldades para dormir. Ficava doente constantemente, comecei a ter uma
gastrite, que evoluiu para úlcera e depois um pequeno tumor no tubo
digestivo", lembra Christian Barbosa, CEO da consultoria Triad e
ex-workaholic.
Embora o mais indicado para a maioria dos viciados em
trabalho seja uma ajuda médica, alguns profissionais conseguem encontrar a
resposta quando reconhecem o próprio problema. No caso de Christian Barbosa, a
melhor forma de lidar com o vício foi aprender a gerir o próprio tempo. Se deu
certo? O fato de ele ter se tornado um dos maiores especialistas em gestão do
tempo do Brasil dá por si só a resposta.
"Eu fui um workaholic dos piores tipos dos 16 aos 20
anos de idade. Procurei ajuda na gestão de tempo; comecei a me organizar
melhor, priorizar outras coisas, adicionar tempo para mim mesmo na agenda. Foi
um processo que demorou 4 meses para conseguir parar de trabalhar aos domingos
e um total de 10 meses para ter mais vida", reconhece Christian.
Entretanto, Wanderley Codo garante que um auxílio
especializado é essencial tanto para diagnosticar o vício quanto para tratá-lo.
"Para detectar o vício é necessário um diagnóstico simples que deve ser
feito por um profissional especializado, porque o que vai se estudar é o grau e
tipo de relação que ele tem com o trabalho e com a vida. O paciente pode
perfeitamente trabalhar muitas horas e ter uma relação perfeita com o trabalho
e com os demais aspectos da vida", explica.
Worklovers
Se você gosta e já está acostumado a trabalhar 12 horas por
dia, e até alguns fins de semana, não precisa ficar alarmado: você não é,
necessariamente, um workaholic. As pesquisas coordenadas pelo professor
Wanderley Codo identificaram outro tipo de profissional que, embora tenham essa
característica de um viciado, não permitem que isso interfira nos demais
aspectos da vida nem se utilizam do trabalho como um meio para figir dos
problemas. Tais profissionais foram denominados worklovers, pessoas que amam o
próprio trabalho e desenvolvem uma relação perfeitamente salutar com ele.
Carol Azevedo, diretora de Criação da agência de publicidade
Bloom, acredita que seu perfil se encaixa nessa categoria. Apesar de trabalhar,
em média, 10 horas por dia entre dois escritórios da agência, ela afirma que é
apaixonada pelo que faz e que isso é feito de forma equilibrada e sem pesar na
sua vida social, pessoal e afetiva. "Eu me considero uma worklover de carteirinha!
Sou apaixonada pelo que faço e procuro profissionais com a mesma característica
para a minha equipe. É essa paixão que traz qualidade e a constante busca pelo
aprimoramento. Gosto de criar, de estar envolvida com as pessoas, à frente de
desafios e projetos", afirma a diretora.
Vício ou status?
Muita gente gosta do trabalho, sente prazer no que faz e
passa algumas horinhas a mais no escritório, abrindo mão de fazer coisas mais
interessantes, como sair com o parceiro, assistir um filme ou ler um livro, por
exemplo. No entanto, criou-se uma balbúrdia, a partir dos anos 90, de que
gostar de trabalhar seria um sintoma de vício, já que para muita gente
trabalhar é um esforço necessário apenas para ganhar dinheiro, e não uma fonte
de deleite.
Incorporando essa cultura, jovens profissionais se intitulam
workaholics como uma forma de manter uma fama entre os colegas de um
trabalhador esforçado, que abre mão de tudo para conseguir os resultados
necessários. Porém há uma diferença abissal entre gostar de trabalhar e ser um
viciado em trabalho, o que abrange sintomas físicos e psicossociais graves. Um
workaholic busca, através do trabalho, criar um 'mundo particular' para escapar
dos problemas reais, não um status quo.
Fonte: Administradores
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