Impiedosas foram as capas das revistas semanais sobre o
descalabro que se tornou uma das maiores empresas brasileiras. Não obstante o
ufanismo e o verde e amarelo de épocas passadas, era até pouco tempo um exemplo
do Brasil grande, autossustentável, inovador e global. Juntar-se a suas
fileiras motivo de orgulho e objetivo de muitos jovens, os quais ansiavam por
trabalhar num ambiente rodeado por tecnologia de ponta, investimentos, educação
continuada e meritocracia - características raras em uma empresa estatal, as
quais transformaram a Petrobras em uma das maiores e mais admiradas empresas
globais em seu setor.
O abuso do governo em utilizá-la como instrumento político,
controlando os preços dos combustíveis nas bombas a fim de evitar aumentos
inflacionários, fez com que amargasse prejuízos seguidos em seu balanço
patrimonial. Não bastasse esta ingerência vermelha ocorrida nos últimos onze
anos, corrupção ativa e passiva, nomeação de aliados políticos, aquisições
esdrúxulas, marcos regulatórios ambíguos e toda sorte de malvadezas dilapidaram
o valor de mercado da petroleira, cuja queda de 64% desde 2011 é o exemplo mais
contundente. Despencaram com o valor das ações sua eficiência, rentabilidade e
grau de investimento.
Gostaria de ilustrá-la através da Visão Baseada em Recursos
ou VBR, proposta pelo pesquisador Jay Barney, PHD pela Universidade de Yale e
um dos mais influentes teóricos sobre estratégia corporativa. Segundo o autor,
as empresas podem construir fontes de vantagem competitiva por meio da
utilização correta de seus recursos e capacidades. É necessário, porém, uma
avaliação correta e realista, evitando um erro bastante comum no mundo dos
negócios no qual empresas naufragam aos ataques da concorrência, seja por
superestimarem seus pontos fortes ou subestimarem as barreiras de entrada ao
negócio ou ao setor.
Barney desenvolveu uma interessante ferramenta para auxiliar
esta análise denominada como modelo VRIO, o qual aborda os recursos e
capacidades de uma empresa sobre o prisma do Valor, da Raridade, da
Imitabilidade e da Organização, atuando como um funil na estimação de seus
pontos fortes como construção de vantagem competitiva. Vejamos a teoria do
autor, aplicando-a ao exemplo das Petrobras. Você verá que após a definição do
acrônimo haverá uma pergunta-chave, cuja resposta positiva qualifica o recurso
como fonte de vantagem competitiva.
Valor: o recurso permite que a empresa explore uma
oportunidade ambiental ou neutralize uma ameaça do ambiente? Talvez poucos
setores tenham uma correlação tão forte no que tange ao valor e utilização de
sua matéria-prima como parte de seu produto final. É inimaginável uma empresa
petroleira sem campos de exploração ou uma mineradora sem jazidas de ferro.
Vejamos agora a cadeia de valor do petróleo. Desde a exploração, perfuração,
bombeamento, transporte, refino, distribuição e venda há a mão pesada da
Petrobras, corroborando a tese que de que os recursos permitem neutralizar
qualquer ameaça do ambiente.
Raridade: o recurso é controlado atualmente apenas por um
pequeno número de empresas concorrentes? Em um cenário de livre concorrência,
em geral os recursos estão disponíveis de maneira homogênea para todos os
competidores. Já empresas inovadoras conseguem certa exclusividade até que
competidores decidam copiá-la, seja de maneira licita ou ilícita. Outro exemplo
interessante são os laboratórios farmacêuticos e suas patentes. Colocado este
pano de fundo, nenhuma outra empresa brasileira navega em céu de brigadeiro
como a Petrobras com o quase monopólio exercido sobre os campos atuais e
potenciais, garantindo a raridade dos recursos para a estatal verde e amarela.
Imitabilidade: as empresas sem o recurso enfrentam uma
desvantagem de custo para obtê-lo ou desenvolvê-lo? Que empresa sentir-se-ia
atraída a entrar num mercado fechado, obscuro, dominado por um único parceiro e
cujo sócio será o próprio inimigo, características do sistema de partilha
adotado no modelo de exploração? O resultado do leilão do campo de Libra, o
maior do pré-sal, confirma esta tese com um número de participantes bastante
inferior ao inicialmente previsto. Talvez não tenha sido coincidência a não
participação de quatro gigantes do setor: as norte-americanas Exxon Mobil e
Chevron e as britânicas British Petroleum (BP) e British Gas (BG), que com
certeza previam uma desvantagem de custo com a obtenção e desenvolvimento da
matéria-prima.
Organização: as outras políticas e procedimentos da empresa
estão organizados para dar suporte à exploração de seus recursos valiosos,
raros e custosos para imitar? Estavam até a corja de José Gabrielli, Paulo
Roberto Costa, Nestor Cerveró, André Vargas e Alberto Youssef, só para citar os
envolvidos até a semana passada, esculhambarem, escangalharem, desmoralizarem e
avacalharem a empresa criada por Getúlio Vargas há mais de 60 anos.
Enfim, espero que a descoberta do escândalo causado pela
compra da refinaria nos Estados Unidos traga, se não uma CPI, ao menos
esperança de que os desmandos e desmazelos diminuirão, retornando a Petrobras
ao caminho das boas práticas de gestão, da competitividade e da inovação.
Capacidades e recursos ela têm de sobra, basta saber até quando aguentará ver
seus recursos bombeados e desviados como num verdadeiro “propinoduto”.
Fonte: Administradores
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo participação!