A busca por se transformar na "celebridade" entre
seus amigos está alienando muita gente; e as consequências vêm sendo
gravíssimas, ampliando o que há de pior na natureza humana
Não! Eu não tenho Instagram (dessa vez não precisarei
deletá-lo). No entanto, vejo um cenário um tanto preocupante que ronda esse
aplicativo: ele se transformou no principal palco para propósitos narcisistas,
egocêntricos e fúteis na web.
Mas isso é só a ponta do iceberg do real problema que ele
provoca: a anorexia glamurizada nas redes sociais está matando gente; o
bullying virtual (e agressivo) em comentários das fotos vem deixando parte da
juventude em depressão; pessoas vivem e agem cada vez mais devido à opinião
alheia; há uma falência moral e das relações humanas.
Será que podemos continuar ignorando esses problemas?
Questões, as quais, são encaradas nas redes sociais não só como situações
normais, mas também como situações “curtíveis”, de piada e até divulgados como
estilo de vida.
Não quero ser revolucionário
Antes que comecem a jogar pedras em mim, gostaria de dizer
que além das minhas funções profissionais, sou fotógrafo, o que pode, à
primeira vista, causar muito espanto, afinal, o Instagram funciona como um
grande banco de imagens interativo. Acredito que o aplicativo, inclusive, pode
ser muito bacana, principalmente pela facilidade e quantidade de filtros nele.
Existem ótimos perfis por aí e tem muita gente que usa de forma sadia.
Mas isso não muda em nada a necessidade de uma análise
desapaixonada acerca de toda a celeuma criada pelos "filtros
bonitinhos". Com o devido respeito às opiniões divergentes, há questões
antropológicas muito mais profundas em jogo, de algumas mazelas que o Instagram
ajudou a potencializar. E isso merece uma reflexão.
No Instagram, você não é mais você
As redes sociais criaram uma verdadeira possibilidade de
dupla personalidade. Vivemos a era da criação de uma representação virtual,
daquilo que gostaríamos de como os outros vissem a gente. E muitas vezes
cria-se um personagem, diferente do real.
O objetivo, em boa parte das ocasiões, é motivado pela
necessidade de pertencer a um grupo, de ter reconhecimento, de se criar um
status. Assim, as pessoas buscam virar as “celebridades” do seu meio social (ou
pelo menos serem reconhecidas). Quanto mais curtidas melhor, quantos mais
comentários, opa, melhor.
Se você levanta uma bandeira, a chance de ser “mais querido”
aumenta. E aí, notamos um verdadeiro exército de pessoas que seguem essa linha
no Instagram. Há a necessidade de mostrar que é saudável ("olha meu prato
verde!"), ou de mostrar como é intelectual ("olha o livro que estou
lendo! Recomendo!”). Infelizmente a pessoa parou no primeiro capítulo, mas quem
precisa saber a verdade, né?! Tem que agregar valor com as fotos da festa em
que esteve ("olha como sou popular e frequento bons lugares!"). Isso
quando não é tudo junto e misturado. Criou-se uma cultura cultivada a likes que
alimenta o narcisismo, o culto às coisas fúteis e a libido dos egocêntricos.
É uma verdadeira guerra por reconhecimento e aí vale tudo.
Há muita gente que deleta as fotos por não receber muitas curtidas; que
disputam com outros do seu círculo de amigos (mesmo que de forma não declarada)
quem possui mais status na rede, que mentem ao dizer que estão em determinados
lugares. Ah! Está nas lições e fala do Rei do Camarote: "Se você não tiver
um Instagram, não é legal. Você tem que ter, tem que julgar, postar as fotos
das festas, os vídeos". Talvez isso agregue mais valor à babaquice, né?
Aí é que mora o perigo
Esse fingimento de alguns (aparentemente inocente) ou essa
necessidade de receber curtidas em outros, pode passar sem importância e ser
até defendido. Afinal, quem não fica feliz por receber um elogio, quem não
gosta que comentem ou curtem algo que você indaga? “Isso faz parte da natureza
humana!”.
Sim, pode até ser. Mas o exagero que alguns carregam nessa
identidade, a preocupação em demasia das pessoas com a opinião alheia sobre si
mesmas é perigosa. Muitas pessoas passaram a viver em função desse novo mundo
paralelo, de alimentar essa fantasia. Da necessidade de uma avaliação, de
receber curtidas, de mostrar ao outros como é bonito (a), elegante, saudável.
De distorcer o seu caráter. E aí, o ônus do Instagram fica maior que o bônus.
Um caso bem comum está na questão do próprio corpo. A
anorexia é incentivada e ganha elogios apaixonados em contas nesta rede social.
A morte da gaúcha Dai Dornelles, de 21 anos, “celebridade” no app foi apenas
uma entre várias no mundo em busca desse corpo perfeito.
A falta de saber lidar com a exposição excessiva também já
deixou suas vítimas. Somente no último mês houve vários relatos de meninas que
cometeram suicídios devido ao compartilhamento indevido de imagens e vídeos.
Outro mal que vem atingindo muitos usuários é a depressão. O tema foi até linha
de pesquisa na Universidade de Edinburgh Napier, na Grã Bretanha. O estudo
mostrou que quanto maior o número de amigos adicionados nas redes sociais,
maior o estresse e a chance de depressão do usuário.
Os participantes do estudo explicaram que sentem necessidade
de mostrar aos colegas que são pessoas divertidas, criativas e populares, e
justificaram que permanecem na rede porque têm medo de perder o contato com
amigos distantes, e porque não querem ser excluídos de algum evento importante.
A cientista que conduziu o estudo, Dra. Kathy Charles, compara a necessidade de
se conectar ao vício do jogo. “Como em jogos de azar, as redes sociais mantêm
os usuários em um limbo neurótico, que eles temem sair e perder algo
interessante.”
Apenas reflita
Todo esse papo não tem o intuito de julgar se você gosta ou
não do Instagram, se você usa ou não o aplicativo, mas é novamente levantar uma
reflexão sobre como cada um lida com a sua relação real e virtual.
Até que ponto o Instagram ou outra rede social interfere em
sua vida? Você se sente estressado, triste ou deprimido com algumas situações
que implique o uso desses meios? Será que dar tanta importância a comentários
nas redes socias é mesmo sadio?
Uma colega, que é psicóloga, comentou uma frase que faz todo
o sentido: "É preciso que entendamos que a internet está a nossa
disposição para ser utilizada como um meio e não como dogma".
A verdade é que ter uma conta no Instagram ou em qualquer
outra rede social é, de fato, uma escolha sua. E que você deve discernir sobre
isso. No entanto, o mais condizente é dominar a ferramenta e não o inverso.
Há uma frase atribuída a Albert Einstein que diz o seguinte:
“Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, e o mundo
terá uma geração de idiotas”. Está na hora de impedir que esse dia chegue (se é
que ele não já chegou).
Fonte: Administradores
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