segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Instagram: o ápice da idiotice na internet

A busca por se transformar na "celebridade" entre seus amigos está alienando muita gente; e as consequências vêm sendo gravíssimas, ampliando o que há de pior na natureza humana




Não! Eu não tenho Instagram (dessa vez não precisarei deletá-lo). No entanto, vejo um cenário um tanto preocupante que ronda esse aplicativo: ele se transformou no principal palco para propósitos narcisistas, egocêntricos e fúteis na web.

Mas isso é só a ponta do iceberg do real problema que ele provoca: a anorexia glamurizada nas redes sociais está matando gente; o bullying virtual (e agressivo) em comentários das fotos vem deixando parte da juventude em depressão; pessoas vivem e agem cada vez mais devido à opinião alheia; há uma falência moral e das relações humanas.

Será que podemos continuar ignorando esses problemas? Questões, as quais, são encaradas nas redes sociais não só como situações normais, mas também como situações “curtíveis”, de piada e até divulgados como estilo de vida.

Não quero ser revolucionário

Antes que comecem a jogar pedras em mim, gostaria de dizer que além das minhas funções profissionais, sou fotógrafo, o que pode, à primeira vista, causar muito espanto, afinal, o Instagram funciona como um grande banco de imagens interativo. Acredito que o aplicativo, inclusive, pode ser muito bacana, principalmente pela facilidade e quantidade de filtros nele. Existem ótimos perfis por aí e tem muita gente que usa de forma sadia.

Mas isso não muda em nada a necessidade de uma análise desapaixonada acerca de toda a celeuma criada pelos "filtros bonitinhos". Com o devido respeito às opiniões divergentes, há questões antropológicas muito mais profundas em jogo, de algumas mazelas que o Instagram ajudou a potencializar. E isso merece uma reflexão.

No Instagram, você não é mais você

As redes sociais criaram uma verdadeira possibilidade de dupla personalidade. Vivemos a era da criação de uma representação virtual, daquilo que gostaríamos de como os outros vissem a gente. E muitas vezes cria-se um personagem, diferente do real.

O objetivo, em boa parte das ocasiões, é motivado pela necessidade de pertencer a um grupo, de ter reconhecimento, de se criar um status. Assim, as pessoas buscam virar as “celebridades” do seu meio social (ou pelo menos serem reconhecidas). Quanto mais curtidas melhor, quantos mais comentários, opa, melhor.

Se você levanta uma bandeira, a chance de ser “mais querido” aumenta. E aí, notamos um verdadeiro exército de pessoas que seguem essa linha no Instagram. Há a necessidade de mostrar que é saudável ("olha meu prato verde!"), ou de mostrar como é intelectual ("olha o livro que estou lendo! Recomendo!”). Infelizmente a pessoa parou no primeiro capítulo, mas quem precisa saber a verdade, né?! Tem que agregar valor com as fotos da festa em que esteve ("olha como sou popular e frequento bons lugares!"). Isso quando não é tudo junto e misturado. Criou-se uma cultura cultivada a likes que alimenta o narcisismo, o culto às coisas fúteis e a libido dos egocêntricos.

É uma verdadeira guerra por reconhecimento e aí vale tudo. Há muita gente que deleta as fotos por não receber muitas curtidas; que disputam com outros do seu círculo de amigos (mesmo que de forma não declarada) quem possui mais status na rede, que mentem ao dizer que estão em determinados lugares. Ah! Está nas lições e fala do Rei do Camarote: "Se você não tiver um Instagram, não é legal. Você tem que ter, tem que julgar, postar as fotos das festas, os vídeos". Talvez isso agregue mais valor à babaquice, né?

Aí é que mora o perigo

Esse fingimento de alguns (aparentemente inocente) ou essa necessidade de receber curtidas em outros, pode passar sem importância e ser até defendido. Afinal, quem não fica feliz por receber um elogio, quem não gosta que comentem ou curtem algo que você indaga? “Isso faz parte da natureza humana!”.

Sim, pode até ser. Mas o exagero que alguns carregam nessa identidade, a preocupação em demasia das pessoas com a opinião alheia sobre si mesmas é perigosa. Muitas pessoas passaram a viver em função desse novo mundo paralelo, de alimentar essa fantasia. Da necessidade de uma avaliação, de receber curtidas, de mostrar ao outros como é bonito (a), elegante, saudável. De distorcer o seu caráter. E aí, o ônus do Instagram fica maior que o bônus.

Um caso bem comum está na questão do próprio corpo. A anorexia é incentivada e ganha elogios apaixonados em contas nesta rede social. A morte da gaúcha Dai Dornelles, de 21 anos, “celebridade” no app foi apenas uma entre várias no mundo em busca desse corpo perfeito.

A falta de saber lidar com a exposição excessiva também já deixou suas vítimas. Somente no último mês houve vários relatos de meninas que cometeram suicídios devido ao compartilhamento indevido de imagens e vídeos. Outro mal que vem atingindo muitos usuários é a depressão. O tema foi até linha de pesquisa na Universidade de Edinburgh Napier, na Grã Bretanha. O estudo mostrou que quanto maior o número de amigos adicionados nas redes sociais, maior o estresse e a chance de depressão do usuário.

Os participantes do estudo explicaram que sentem necessidade de mostrar aos colegas que são pessoas divertidas, criativas e populares, e justificaram que permanecem na rede porque têm medo de perder o contato com amigos distantes, e porque não querem ser excluídos de algum evento importante. A cientista que conduziu o estudo, Dra. Kathy Charles, compara a necessidade de se conectar ao vício do jogo. “Como em jogos de azar, as redes sociais mantêm os usuários em um limbo neurótico, que eles temem sair e perder algo interessante.”

Apenas reflita

Todo esse papo não tem o intuito de julgar se você gosta ou não do Instagram, se você usa ou não o aplicativo, mas é novamente levantar uma reflexão sobre como cada um lida com a sua relação real e virtual.

Até que ponto o Instagram ou outra rede social interfere em sua vida? Você se sente estressado, triste ou deprimido com algumas situações que implique o uso desses meios? Será que dar tanta importância a comentários nas redes socias é mesmo sadio?

Uma colega, que é psicóloga, comentou uma frase que faz todo o sentido: "É preciso que entendamos que a internet está a nossa disposição para ser utilizada como um meio e não como dogma".

A verdade é que ter uma conta no Instagram ou em qualquer outra rede social é, de fato, uma escolha sua. E que você deve discernir sobre isso. No entanto, o mais condizente é dominar a ferramenta e não o inverso.

Há uma frase atribuída a Albert Einstein que diz o seguinte: “Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, e o mundo terá uma geração de idiotas”. Está na hora de impedir que esse dia chegue (se é que ele não já chegou).



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