Entender se estamos em busca de um diploma ou de conhecimento é fundamental para direcionar nossos próximos passos
Me lembro como se fosse ontem a época em que fiz curso pré-vestibular. Naquela sala, estávamos divididos em grupos: os que sabiam exatamente o que queriam, os que tinham uma ideia de cursos, e o meu grupo, dos que não sabiam nem ao menos o que estavam fazendo ali.
É comum sermos bombardeados desde crianças por perguntas como: você já sabe que profissão quer seguir? Em que faculdade vai estudar? O que você vai fazer do resto da sua vida? Essa pode parecer uma simples pergunta de parentes, familiares e amigos que estão preocupados com o futuro, porém é algo muito sério e precisa ser analisado com cautela. Por que?
Ser adolescente já é uma pressão muito difícil de se lidar. Conflitos emocionais, se sentir incompreendido pelos pais, ilusões e desilusões amorosas, insegurança com a aparência, preocupação em ser aceito pelos colegas - estes podem ser grandes motivos de stress. Em um cenário assim, se ver obrigado a decidir de forma tão prematura o que vai fazer pelo resto da vida é péssimo. Afinal, o que gostamos hoje, detestamos amanhã. Vivemos poucas experiências de trabalho e sociais para saber que tipo de perfil profissional temos. Assim, o parâmetro usado normalmente para decidir o curso são as 'tendências de mercado', 'o que está pagando melhor no momento', e assim por diante.
Se basear neste tipo de parâmetro para tomar uma decisão é péssimo, porque o mercado de trabalho muda constantemente. Em um mundo globalizado, as necessidades de 10 anos atrás não são as mesmas de hoje. Consequentemente, a mudança das necessidades das pessoas altera a forma como as empresas levarão seus processos e procedimentos, visando a adaptação para sobrevivência em um cenário tão competitivo. Ou seja, o que paga bem ou é tendência de mercado hoje, no seu primeiro ano de faculdade, pode estar obsoleto em 5 anos, quando você se formar. Outro perigo de usar este tipo de referência é que assim como você quer ir para a área que paga melhor, pode ter certeza que uma multidão de outros jovens também querem. Ou seja, sua concorrência no mercado de trabalho com certeza será muito maior do que se você talvez tivesse buscado um caminho diferente.
Esta situação é comum, e leva muitas pessoas a mudarem de curso no meio do caminho. Eu acho isso ótimo. Ter coragem suficiente para aceitar que aquele não é o melhor caminho e ir em busca de algo novo é algo que poucos tem coragem de fazer. Já vi muitos autores renomados citarem que o Brasil tem uma cultura de aversão ao erro, e concordo plenamente com isso. Você não precisa ter vergonha de dizer aos seus amigos, familiares ou em uma entrevista de emprego que você começou um curso e resolveu mudar por medo de ser considerado indeciso ou que não sabe o que quer. Isso não faz de você menos do que os outros, pelo contrário! Mostra que você está adquirindo algo muito difícil de encontrar hoje em dia, o autoconhecimento, e que além disso, você não tem medo da mudança, porque sabe que no final das contas, a estrada que te leva ao sucesso não é a faculdade escolhida, e sim o empenho e as habilidades adquiridas ao longo do caminho.
Em minha curta experiência de vida, algumas das coisas mais frequentes que vi foram pessoas que escolheram permanecer em empregos que detestavam por medo de 'sujar a carteira'. Sério que isso ainda existe? Acho que da mesma forma que a empresa tem que analisar se o candidato pula de galho em galho, o funcionário também deve avaliar se a empresa sempre dispensa funcionários por estar em busca de um super man. O mesmo se aplica à faculdade. Se você não está se identificando com a profissão que vai seguir neste curso, não tenha medo de mudar.
Se você não está se identificando com seu trabalho, com sua faculdade, com a sua cor de cabelo, com a sua roupa ou com o caminho que você faz pra voltar pra casa, MUDE! Daí você vai me dizer: "mas Wanessa, eu perdi 2 anos nesse curso! não posso parar agora". E eu lhe respondo 2 coisas: primeira, nada é tempo perdido. Mesmo que você não siga esta profissão, o conhecimento adquirido jamais pode ser tirado de você, e acaba sendo últil nas situações que menos se imagina. Segundo, é melhor você ter descoberto só com 2 anos de curso que não é o que você queria, do que trabalhar a vida inteira com aquilo pra no final se arrepender porque queria ser qualquer outra coisa, menos o que você foi a vida inteira.
Onde quero chegar falando tudo isso? O ponto é que precisamos entender exatamente porque estamos buscando o ensino superior. É por pressão familiar em decidir o que quer, por dinheiro ou por sede de conhecimento, real interesse na área? Dependendo da resposta, vamos saber onde procurar aquilo que queremos. A melhor decisão é a que nos deixa num estado interno de paz e satisfação independente do que os outros vão pensar. E se seu medo for de não ter como se sustentar enquanto não decide o que realmente quer, lhe digo: todo trabalho é digno. Provavelmente você não vai conseguir de cara aquele emprego dos sonhos, e mesmo que por um tempo você tenha que trabalhar em algo mais simples para se sustentar, a sensação de ser livre para ter suas experiências e dedicar tempo para escolher a profissão certa é impagável.
Fonte: Administradores
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