Ir ou não ir embora: eis a questão
É preciso ter cuidado com a ilusão do paraíso perdido. Mas se o seu maior sonho é ir embora, não fique só no sonho. Faça o seu planejamento, sua análise de risco, pegue as suas trouxas e vá, ou seja, parta para a ação. Seja específico, pois sonho difuso não é sonho, é ilusão e auto-engodo e faz com que as pessoas entrem no perigoso círculo vicioso da reclamação e da vitimização, que pode até acabar em depressão. Tudo na vida importa em decisões e escolhas, ou como disse Peter Drucker: “O produto final do trabalho de um administrador são decisões e ações”. Ir ou ficar é uma decisão que pode ser muito importante. E toda decisão é uma escolha entre alternativas e toda a alternativa tem pontos positivos e negativos, inclusive pressupostos, que muitas vezes são ignorados. Assim, vale lembrar duas frases:
1. Por não saber que era impossível foi lá e fez (Jean Cocteau);
2. Por não saber que era impossível foi lá fez e se esborrachou (popular)
E não importa para onde você for, o mundo se movimenta em ciclos. O que quer dizer que onde quer que você esteja, sempre vai haver tempos de vacas gordas e de vacas magras, tempos de abundância e fartura e tempos de escassez, e isto é assim desde os primórdios da humanidade. Portanto, é preciso ter cuidado com a ilusão de que existe um lugar sem problemas e adversidades, onde tudo sempre corre as mil maravilhas. Além disto, seja na fartura ou na escassez sempre existe risco, ou como dizia o Prêmio Nobel Ilya Prigogine, “a era da certeza acabou”. E um famoso político do então Estado da Guanabara dizia: “só tem certeza de alguma coisa quem estiver muito mal informado”. Assim, se seu sonho é ir embora, faça um bom estudo da alternativa, com seus pontos positivos, negativos e pressupostos, para depois não ter que ficar cantando: “eu era feliz e não sabia”.
Bem pior do que o Brasil atual estava o Japão durante e depois da 2ª Grande Guerra Mundial. E ai existem muitas histórias, mas vale lembrar a de Soichiro Honda. Durante a guerra, sua fábrica foi bombardeada duas vezes, ocasionando a destruição de grande parte das instalações. E para completar, em janeiro de 1945, um terremoto destruiu o que restava de sua fábrica. E que fez Soichiro Honda? Desistiu, mudou-se para outro país ou ficou reclamando? Se tivesse feito isto, hoje a Honda não seria a potência mundial que todos conhecemos.
Atualmente, mais do que em qualquer outra época, uma das coisas fundamentais para qualquer pessoa, portanto, para um empreendedor ou para um administrador, é saber trabalhar com o estresse e a adversidade. De acordo com o americano Paul Stoltz, um especialista no assunto, vivemos num mar de adversidades e todos os dias enfrentamos pelo menos 20, seja em casa, no transito, no trabalho ou seja lá onde for. E é sempre bom ter em conta a famosa Lei de Murphy. Quem não sabe trabalhar com adversidades pode ter sentimentos de desesperança, frustração, depressão, raiva, fúria, impaciência, amargura, revolta, intolerância e pena de si mesmo. E como consequência, ter o seu sistema imunológico fragilizado, com todas as sequelas que disto decorre. De acordo com Stoltz, as pessoas funcionam, ou seja, operam, quer queiram ou não, saibam ou não, de acordo com quatro padrões que também mostram suas capacidades de superar adversidades e vencer obstáculos, que são: controle, responsabilidade, extensão e resistência. Vamos especificar estes 4 padrões de funcionamento:
Controle: Existem coisas que estão no nosso controle e coisas que não estão. E neste sentido é sempre oportuno lembrar a Oração da Sabedoria: “Dai-me força e competência para mudar o que pode ser mudado. Paciência para aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para diferenciar uma coisa de outra”. E para se controlar o que se pode, a administração do tempo é fundamental. Ou como dizia Drucker: “O tempo é o recurso mais escasso que existe e se ele não puder ser administrado, nada mais pode ser administrado”. Quando se pensa em administração do tempo devemos considerar o tempo cronológico e o tempo psicológico. O tempo cronológico tem a ver com a ação, com a identificação do que precisa ser feito agora e do que pode esperar para que possamos alcançar nossos objetivos. Já o tempo psicológico tem a ver com nossos pensamentos e emoções. Existem três categorias de pensamentos: os pensamentos importantes e úteis, os pensamentos abobrinha que não servem para nada e, pior do que isto, os pensamentos destrutivos, entre eles, a voz do julgamento, que são as críticas inúteis e sem sentido, e as palavras assassinas que acabam matando a criatividade e a possibilidades de identificação de novas oportunidades. É sempre oportuno lembrar que em 1962 os Beatles foram dispensados da Decca Records com o argumento de que os grupos com guitarras estavam acabando.
De qualquer forma, tenha sempre presente que se você não pode controlar o vento, você pode controlar a vela, que são seus pensamentos, o seu foco e o significado que você dá para as coisas.
Responsabilidade: Nós somos responsáveis pelas nossas decisões e ações e é preciso compreender a nossa parte nas coisas que nos acontecem e na construção do nosso futuro. Portanto, nada de arranjar culpados e justificativas nos casos em que existam desvios imprevistos, contratempos e erros que tenhamos cometido. Mais ainda: o que os outros fazem é problema dos outros. O nosso é o que temos que fazer para alcançarmos os nossos objetivos, não importa se o mar esteja calmo ou turbulento. E uma característica dos grandes líderes é tomar a decisão certa, mesmo que seja a mais difícil e dolorosa. Eles não fogem da própria responsabilidade.
Extensão: tem a ver com a capacidade de viver o presente, o aqui e agora. Existem dois problemas. Um é o foco caótico. Outro é a contaminação. O foco caótico é ficar pulando de galho em galho, sem conseguir dar direção e sentido. De acordo com Chris Argyris, esta é uma das maiores causas da baixa produtividade. Contaminação é não conseguir viver o presente por se estar preso a alguma coisa que nos aconteceu no passado. Assim, houve um fato que nos deixou irritados pela manhã e o nosso dia inteiro fica estragado. Ou então, é o chamado temor antecipatório. É a imaginação de alguma coisa ruim possa nos acontecer no futuro. De qualquer forma tenha considere que só existe o presente. O passado é memória e o futuro imaginação.
Resistência: tem a ver com determinação implacável, paixão por vencer, com a visão do futuro e com a capacidade de manter a esperança nas piores condições possíveis. De acordo com Albert Ellis, o criador da Terapia do Comportamento Emocional Racional, a determinação implacável representa quase que três quartas partes da vitória. Soichiro Honda é um exemplo de resistência. Mas existem outros casos, como Viktor Frankl um psiquiatra austríaco que esteve internado e conseguiu sobreviver num campo de concentração nazista. Frankl constatou que os prisioneiros que conseguiam sobreviver eram aqueles que tinham alguma coisa de importante para fazer em seus futuros e, com este foco no futuro conseguiam sobreviver dentro das condições mais adversas para um ser humano.
Outra história foi a do explorador irlandês Ernest Shackleton, que tinha o sonho de chegar à Antártida e atravessar o continente de trenó e de esqui, uma proeza que ninguém havia conseguido até então. No final de 1914, Shackleton partiu com o barco Endurance. Entretanto, todas as coisas saíram erradas. Em janeiro do ano seguinte o navio encalhou no gelo e algum tempo depois afundou. As condições eram as mais adversas possíveis, não só pela hostilidade do clima, mas também porque não existia nenhuma possibilidade de comunicação e, praticamente, esperança de salvamento. Foi mais de um ano de luta pela sobrevivência, até que finalmente Shackleton numa última tentativa, que culminou com uma caminhada por gigantescas montanhas cobertas de neve, conseguiu chegar à estação baleeira de Stromness em maio de 1916. E não muito tempo depois, com ajuda de um rebocador disponibilizado pela marinha chilena, conseguiu salvar o restante da tripulação. Este feito foi considerado uma das mais espetaculares aventuras na história da exploração polar.
De acordo com Paul Stoltz existem três tipos de pessoas. Os alpinistas, os campistas e os desistentes. Os alpinistas são pessoas que perseveram, lutam, se esforçam, aprendem, e ampliam suas capacidades constantemente. Para os campistas, a sua motivação é a previsibilidade, a segurança e as mudanças limitadas. Os desistem abandonam a luta. Costumam ser amargos e evitam mudanças. E considerando-se uma escala de 1 até 10 para medir estes 4 padrões de funcionamento, os alpinistas estão de 8 para cima. Os campistas de 5 até 7 e os desistentes de 4 para baixo.
A situação do Brasil não está nenhuma maravilha, é bem verdade, mas mundo a fora houve e pode haver situações bem piores, como foi a grande depressão de 1929 nos Estados Unidos ou a Grécia atual. Assim, se o seu maior sonho é ir embora, veja se isto é uma decisão ou uma fuga consequência de estresse e dificuldades para tratar com as adversidades. E se de fato este for o seu sonho, não fique de lero-lero nem quero-quero. Parta para a ação e vá. Mas também tenha presente que a grande oportunidade da sua vida pode estar aqui mesmo e a poucos metros de distância e você simplesmente não conseguiu ver e avaliar. Warren Buffet, quando perguntado para pela razão do seu sucesso respondeu: a minha capacidade de avaliar. E esta no fundo é uma grande questão. Para o bem ou para o mal você está sempre interpretando e avaliando e você avalia de acordo com os seus 4 padrões de funcionamento, controle, responsabilidade, extensão e resistência, e da forma como estão instalados no seu cérebro e sistema nervoso.
Fonte: Administradores
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