sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Finanças pessoais: lições que dão em árvore




As caducifólias (do latim: cadere, que significa cair, perecer + folia, de folha, ou seja: folhas que caem) são aquelas plantas que perdem suas folhas em algumas estações do ano, geralmente nos meses mais frios e sem chuva (outono e inverno). Essas plantas evoluíram para não perder água através da evaporação pelas folhas nos momentos de difícil disponibilidade desse recurso.

Essa evolução é uma resposta da natureza quando as plantas precisam tomar decisões a fim de garantir sua sobrevivência da melhor forma possível. Tal como tudo o que há na natureza, nós, seres humanos, também fazemos opções para garantir a melhor forma possível de sobreviver a partir dos recursos que temos.

Essas plantas conseguem ajustar a perda de sua folhagem quando do primeiro sinal de aproximação do frio e da estiagem; esse mecanismo faz com que ela entre em um dilema, pois ao mesmo tempo em que a perda de suas folhas evitará o desperdício de água, isso também acarretará em não produzir energia através da luz. Desta forma, duas reações precisam ser pesadas: deixar de produzir energia para evitar perder água durante um tempo, ou arriscar perder água em momento de estiagem para aproveitar a pouca luz que estará disponível durante esse período?

A resposta da planta nos ensina que a decisão mais inteligente é aquela que consegue administrar os recursos avaliando a menor perda e garantindo que os ganhos sejam os melhores possíveis.

É claro que uma árvore não possui cérebro para fazer essa análise conscientemente. Entretanto, aquelas que conseguem, instintivamente, escolher o melhor momento de perder suas folhas e garantir o melhor resultado possível a partir dos recursos existentes, conseguem sobreviver e transmitir seus genes para as futuras gerações, conseguindo perpetuar espécies cada vez mais adaptadas.

Se olharmos para nossas decisões financeiras de consumo, poderíamos fazer um paralelo com as caducifólias e nos perguntar: será que estamos preparados para perder algumas "folhas" por um tempo a fim de evitar perder recursos valiosos no momento presente?

Pois bem, o consumo dos brasileiros é caracterizado por decisões inconscientes e cheias de impulso. Poupar para nós é algo tão difícil quanto ganhar dinheiro; porém, não perceber a aproximação de tempos difíceis (inverno) pode nos desadaptar às condições nas quais estamos inseridos.

A decisão das caducifólias é um ato de poupança. Na medida em que elas percebem que a luz e a água disponíveis nos próximos meses serão limitadas, tomam a decisão de poupar água em detrimento de preservar o ganho de luz, pois nesse caso, perder luz quando ela se faz escassa é uma decisão cujo prejuízo será o menor possível para obter o prêmio da economia d’água.

As decisões financeiras orbitam em torno de dois paradigmas fundamentais: entrada e saída de dinheiro. As entradas de dinheiro, ou aumento de sua quantidade, depende de fatores que se realizam no longo prazo e com um certo esforço. Para que isso ocorra, é preciso investir em nossa formação, saúde, comportamento, imagem e, sobretudo, em nossas habilidades e competências.

Já as saídas de dinheiro ocorrem, em sua maior parte, no curto prazo, como já dizia Paulinho da Viola: “Dinheiro na mão é vendaval”. Essas saídas podem ser usadas para o pagamento de despesas, investimentos ou consumo. Eis a dificuldade de grande parte das pessoas em lidar com suas finanças: Primeiro não conseguem selecionar suas saídas de dinheiro tendo em mente sua capacidade financeira, e segundo, impulsionadas pelo marketing e pela propaganda, acabam comprando coisas que vão além de sua necessidade. É o caso das caducifólias, caso optassem por manter suas folhas no inverno para aproveitar a pouca luz disponível e acabassem morrendo por desidratação.

Quando medimos os recursos e as necessidades que temos, precisamos ter em mente a lição das caducifólias e preservar, ao máximo, os nossos recursos escassos até encontrarmos uma outra fonte de receita que supere as saídas que pretendemos ter.

Grande parte das pessoas não consegue ter clareza dessa relação e, aproveitando-se de ferramentas como cartões de crédito e cheques, comprometem-se com obrigações futuras que depreciarão sua qualidade de vida. O consumo desnecessário (e desmedido) é a primeira porta para o descontrole financeiro.

Tendo as caducifólias como exemplo, se você identificar que a sua receita não é o suficiente para manter seus recursos preservados, é hora de cortar gastos a fim de que o inverno não retire de você as condições de sobreviver financeiramente em paz.

Ter em mente o tempo em que conseguimos os recursos (longo prazo) e o tempo em que os gastamos (curto prazo) é fundamental para que comecemos a discernir sobre aquilo que pretendemos comprar e/ou poupar.

Evite perder os recursos escassos em prol de pequenas vantagens de curto prazo, busque analisar sempre a velocidade de ganho e perda de dinheiro para que, assim, você consiga preservar os melhores recursos e aproveitar com abundância as oportunidades quando elas aparecerem.



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