quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O admirável mundo novo do conteúdo virtual. Será?

Nosso comportamento online diante das novas plataformas de conteúdo vem trazendo mudanças profundas nas formas de negócios




O mundo está conectado. Nunca, em nenhum momento da história, tivemos tanta interação e conteúdo disponíveis. Com tecnologias que florescem a cada dia novas descobertas, avanços e recursos, um admirável e avançado mundo novo surgiu. Por exemplo: celular não é mais celular. Hoje, grande parte da população já tem disponível na palma da sua mão uma central completa multimídia que, pasmem, serve também como telefone.

Em meio a esse emaranhado tecnológico, quando se fala em “informação” e veículos de comunicação, é que percebemos o quão expressivo está o mundo. Os “velhos” rádio, jornal e TV ainda existem, mas dividem o seu brilho de forma cada vez mais intensa com sites, aplicativos, redes sociais, plataformas interativas, serviços de armazenamento digital, geo-localizadores, óculos 3D, 4D, 5D e de...zenas de outras aplicações que, geralmente, aparecem aos nossos olhos simplesmente de graça, sem custo algum.

E o acesso, nem se fala, é sempre muito simples: entrou no aplicativo, na rede social, pronto! Você se transforma no novo passageiro – e muitas vezes condutor – rumo a um rico universo de informação, convergência e compartilhamento. A tão sonhada Cibercultura e Inteligência Coletiva,
idolatrada pelo filósofo Pierre Levy, nunca chegou tão perto do idealizado o quanto estamos hoje.

O outro lado

Se tudo parece tão lindo e “admirável”, é preciso, entretanto, fazer uma análise pontual do quão todas essas informações disponíveis de forma gratuita estão sendo geridas e fornecidas para as pessoas. Embora nada seja faturado no nosso cartão de crédito, ou recebamos uma carta de cobrança, nosso comportamento online diante dessas plataformas de conteúdo permanece uma peça-chave para que toda essa estrutura da “economia do grátis” se sustente.

Ainda na década de 1930, uma frase do economista Milton Friedman ficou marcada e continua bem atual: “não existe almoço grátis”. Da mesma forma, nenhum serviço ou bem é oferecido sem custo. Em algum lugar, alguém está pagando essa conta.

O cálculo é simples: mais pessoas acessando conteúdo de graça, mais anúncios amostra e mais links para que se clique neles. E não podemos fingir que não conhecemos esse processo. Estamos acostumados com o apertar do controle remoto nos reclames do plim plim ou a troca de estação nas rádios. A moeda de troca para os anunciantes continua sendo o consumidor.

Isso já abre um diálogo moral e ético polêmico dentro dessas empresas de comunicação: até que ponto a influência de empresas anunciantes interfere no dia a dia de publicações e notícias disponibilizadas? A realidade mostra que é alta. Veículos que ignoram determinados assuntos, que valorizam exacerbas empresas, que tiram proveito de informações privilegiadas (a briga entre Romário e Veja que o diga).

Penso eu, se o filósofo alemão Kant - que defendia a noção de ética como uma conduta a seguir de forma correta e justa,que indicava que sem liberdade não há ação ética, - provavelmente, não desejaria mais viver a cada nova deslizada no Jornalismo.

Porém, no formato digital de conteúdo, um novo ingrediente na atual “moeda de troca”, ou seja, os leitores, põe em cheque não só a informação, mas a disponibilização desse conteúdo. Diferente da televisão, a coleta de informação no formato digital é extremamente precisa sobre o consumidor.

Grandes empresas de tecnologia como Facebook e Google, por exemplo,conhecem nossos hábitos, preferências, rotinas, ideologias, muitas vezes, melhor do que as nossas próprias mães. Isso inclui nossas leituras preferidas e até onde planejamos passar férias. E não são apenas Google ou Facebook. É algo que está varrendo a internet, principalmente entre os veículos de comunicação. A estratégia é aproveitar esse dado refinado, do comportamento das pessoas na internet, com o objetivo comercial direto ou com fins publicitários na surdina.

Bolha de conteúdo

Porém, esses dados qualificados podem levar a outro problema online: uma bolha de interesse de conteúdo. Com o objetivo de levar informação qualificada e direcionada ao gosto do leitor - através de algoritmos que quantificam e qualificam a vida online do usuário -, acabamos nos isolando através desses próprios filtros de personalização que o sistema oferece.

O termo "Grécia", por exemplo, para um determinado usuário pode redirecioná-lo a pontos turísticos, enquanto para outro mostra a cobertura sobre os protestos e problemas sociopolíticos.

Isso leva a outro embate ético dentro desse mundo considerado tão conectado. Com tanta informação disponível, como evitar a formação de bolhas em torno dos usuários, impedindo que eles tenham acesso a outras informações?

A verdade é que vem acontecendo uma mudança na forma como a comunicação está fluindo online. E se não tomarmos cuidado, o admirável mundo novo da comunicação pode tornar-se um grande problema sem reversão.



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