Um texto sobre falácias que estão nos matando
Quem segue essa coluna sabe que volta e meia comento sobre o uso de modelos e os erros aos quais eles nos induzem. Se, por um lado, modelos são úteis para nos ajudar a imaginar e analisar algo, por outro limitam nosso raciocínio e reduzem o mundo real a uma simples imagem.
Pense, por exemplo, no modelo biológico “nascer, crescer, reproduzir, morrer”. Apesar de no mundo real existirem inúmeras variações desse formato, ainda nos prendemos a ele quando se trata de imaginar empresas e produtos. Achamos natural que as coisas comecem pequenas, se desenvolvam, amadureçam e morram.
Acontece que na vida real empresas podem ser divididas em duas. Podem ser compradas por concorrentes, podem ser destruídas por brigas entre sócios. Podem servir de aprendizado para futuros empreendedores. Todos acontecimentos bastante rotineiros, que escapam ao modelo mental de “como as coisas são”.
Quando falamos de inovação, a diferença entre o que as pessoas pensam que é e o que é, de fato, passa a ser ainda mais gritante. Vamos começar pela velha ideia de que inovações geram empregos. Não, não geram.
Se olharmos setores intensivos de tecnologia, não podemos olhar apenas os empregos gerados em uma nova empresa, precisamos olhar os cargos destruídos pela atuação da mesma. E quando falamos de tecnologia, o que vemos não é uma lenta e certa procissão em direção ao crescimento, mas sim um ciclo de destruição com muitas inovações destruindo velhos cargos e empregos, para talvez criarem outros em outro lugar.
Pense no carro sem motorista, uma invenção que parece cada vez mais viável. Se, por um lado, tirar o erro humano do trânsito é uma ideia fantástica, que sem dúvida salvará muitas vidas, por outro acabará com toda uma categoria de motoristas profissionais – motoristas de ônibus, táxis e particulares precisarão procurar emprego em outro lugar.
Mesmo no nível empresarial, onde imagina-se que a criação de empregos seja sempre positiva, isso não é verdade. Basta dizer que a General Electric, exemplo de “gigante" do século passado, possui 305.000 empregados. O Facebook? 10.000.
A inovação é necessária. Graças a ela, temos uma expectativa de vida maior do que nossos avós tinham no passado. Temos confortos e facilidades que eram impensadas a uma geração atrás. Podemos nos comunicar com qualquer lugar do mundo a uma fração do custo em um mundo que há não muito tempo precisava de mensageiros para carregar cartas.
Mas a inovação não é limpa. Não é sua amiga fofinha que vai criar empregos e facilitar a vida de todos. Ela pode ser muito boa a nível societário, mas cria problemas no nível individual. Para cada startup que dá certo, há centenas que vão para o chão sem uma lembrança. Todas essas pessoas precisam se reinventar, encontrar o que fazer e aprender a viver em um mundo que as deixou momentaneamente para trás.
É uma corrida, aos trancos e barrancos. A profissão dos nossos filhos provavelmente ainda não foi inventada. Sua profissão daqui a dez anos também provavelmente ainda não foi. Em um mundo assim, podemos nos zangar, querer “regular”, brigar e limitar.
Ou podemos aceitar e nos preparar.
Fonte: Administradores
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