domingo, 7 de dezembro de 2014

Tamanho não é documento: saiba por que o mercado infantil é um dos que mais crescem no Brasil

De brinquedos e eletrônicos a joias personalizadas, as opções para os pequenos consumidores são diversas




Galinha Pintadinha, Patati Patatá, Peppa Pig. Estes são apenas alguns dos nomes que não podem ser ditos em frente a crianças sem que haja alguma comoção. Negócios infantis estão entre os que mais crescem no Brasil atualmente. O sucesso desses produtos midiáticos, que se consolidaram como marcas, tem a ver com um novo mercado infantil, no qual as crianças são também consumidoras, ainda que não efetuem de fato as compras.

Foi-se o tempo em que pais escolhiam o que os filhos comprariam, vestiriam, ganhariam de presente. No cenário atual, Dia das Crianças, Natal e aniversário, são oportunidades para a criança pedir o que quer, aquilo que viu na televisão ou aquele brinquedo que o coleguinha tem. O professor Andres Rodriguez Veloso, da FEA-USP, estudou Estratégias de Segmentação e Posicionamento Direcionadas para o Mercado Infantil em seu doutorado e afirma que o crescimento de 14% ao ano desse mercado está relacionado ao aumento da renda média do brasileiro nos últimos anos.

O que de fato transformou esse tipo de consumo, porém, foi a mudança na configuração das famílias brasileiras. Andres aponta, além de maternidade e paternidade "tardias", uma queda no índice de natalidade no Brasil, cuja consequência é a diminuição da participação da criança no mercado. "O interessante é que o menor número de crianças por família faz com que a renda disponível para gastar com cada uma seja maior, de forma que o mercado para produtos que não são necessidades básicas aumenta", explica.

A diminuição quantitativa de crianças no mercado, portanto, não significa o enxugamento dele, mas sim sua especialização. Mercados de luxo como o de joias para crianças ou produtos artesanais personalizados são a bola da vez e só tendem a crescer. Esses negócios de luxo apelam para o consumismo dos pais, mas a cultura do consumo é uma realidade da nossa época, e crianças que nasceram nesse contexto muitas vezes reproduzem esse tipo de comportamento. Elas aprendem no próprio núcleo familiar a valorizar bens supérfluos, ainda que de forma inconsciente.

Embora o marketing infantil vise conquistar pais e filhos "consumistas", o que mais fomenta esses negócios ainda são os produtos que apelam para a própria criança. Brinquedos, DVD's e outros itens temáticos de desenhos e atrações infantis são a fonte de grande parte dos bilhões de reais movimentados nesse setor do varejo. Brinquedos eletrônicos e gadgets específicos para crianças também são fortes nas vendas.

Os produtos licenciados estão ligados a uma identificação emocional da criança com o desenho, como acontece com a Peppa Pig. "Inúmeras pesquisas apontam que as crianças, ao se identificarem com determinado desenho ou personagem, irão querer comprar produtos que carreguem essas marcas ou personagens", afirma o professor Andres Veloso. Ele explica que o sucesso desses programas está ligado a elementos especialmente desenvolvidos para conquistar a atenção das crianças, como cores, histórias, e outros aspectos narrativos e estéticos. O professor Reginaldo Gonçalves, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina, concorda. "O segredo está no momento de cativar as crianças naquilo que é interessante para elas, como, por exemplo, as vozes utilizadas e a forma de vestir os personagens", esclarece.

Assim, conforme o produto midiático estabelece uma sensação de divertimento na criança, os produtos relacionados a ele se tornam também sinônimos de diversão. Através da construção de sólidos públicos infantis e parentais, as empresas buscam licenças para reproduzirem os personagens e marcas em forma de brinquedos, roupas, peças teatrais, preenchendo todos os espaços ligados ao desenho no mercado infantil. A criança passa a querer a blusa, o jogo, o copo, o DVD, o boneco e tudo o mais que lhe remeta ao seu personagem preferido.

Os dois professores apontam perspectivas complementares para o futuro do mercado infantil brasileiro. Reginaldo Gonçalves sugere uma volta aos brinquedos mais artesanais. "O que vem sendo observado é que produtos mais elementares, e não eletrônicos, começam a ressurgir, com a grande preocupação dos pais com as inovações tecnológicas e outros atrativos que fazem com que a criança se torne sedentária", explica.

Para Andres Veloso, o mercado em geral só tende a expandir devido aos padrões de vida e consumo da família brasileira. "Por causa do excesso de atividades dos pais, o principal momento em que a criança desfruta da companhia deles é nos finais de semana, quando as atividades realizadas pela família estão ligadas ao consumo. Isso faz a criança compreender que terá a companhia e atenção dos pais nesses momentos", reitera. Esse fator tende a movimentar cada vez mais o mercado infantil, ainda que seja controverso no que diz respeito à formação sócio-cognitiva da criança. O bombardeio de marketing e produtos para o público infantil é uma realidade que irá perdurar; cabe aos pais o ensino do consumo consciente.

Peppa Pig



Peppa Pig é um desenho infantil original do Reino Unido e que no Brasil é transmitido pelo canal Discovery Kids. Peppa é uma porquinha cor de rosa que vive aventuras com seu irmão George Pig e o resto da família e amigos, todos animais. Sensação entre as crianças, os produtos relacionados ao desenho são atualmente os itens infantis mais licenciados - e também mais pirateados - no país.

Galinha Pintadinha



Projeto que surgiu na internet, a "galinha pintadinha" nasceu por acaso. Em 2006, Juliano Prado e Marcos Luporini colocaram um vídeo infantil no YouTube com esse nome. A ideia da postagem aconteceu porque os sócios não poderiam estar presentes em uma reunião com produtores; essa foi a maneira que encontraram para mostrar a proposta. Em pouco tempo, e de surpresa, o vídeo rendeu muitos acessos. A partir daí, só sucesso: com mais de um bilhão de visualizações no YouTube e mais de 1,5 milhão de DVD's vendidos, o produto se tornou um dos mais populares entre crianças brasileiras de 0 a 6 anos.

Patati Patatá



Os palhaços mais famosos do Brasil são obra do trabalho de Rinaldo Faria, ou somente "Rinaldi". O dono da marca tinha o sonho de entreter e alegrar crianças através do trabalho circense, o que fazia com um quarteto chamado Patati Patatá, formado por dois palhaços, um ilusionista e uma assistente de palco. Percebendo o apelo especial dos palhaços, Rinaldi transformou a marca em uma dupla e passou a fazer shows em escolas. O sucesso foi tão grande que os palhaços ganharam um programa no SBT, gravaram DVD's e hoje fazem turnês internacionais.



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