A base do ensino das escolas de negócios no Brasil e no mundo está obsoleta. Hoje, administradores e engenheiros disputam o mesmo espaço dentro das empresas devido a uma falha nos programas de MBA voltados à administração, algo que não traz benefícios nem para as empresas e nem para os profissionais
Um dia desses, conversando com um amigo que está se formando em engenharia civil, ouvi a seguinte afirmação dele: "A engenharia hoje é a melhor área de atuação, pois os engenheiros, além de poder atuar em sua área, também estão ocupando o lugar dos administradores nas empresas".
Já tinha ouvido essa afirmação algumas vezes e nunca dei muita importância, mas naquele dia decidi pesquisar se havia algum fundamento nisso. Li alguns artigos sobre negócios, mas foi no livro do autor Josh Kaufman, Manual do CEO, que encontrei evidências de que infelizmente meu amigo estava certo.
As escolas de pós graduação voltadas aos negócios surgiram no final do séc. XIX, durante a revolução industrial com o objetivo de treinar os gestores para serem mais "científicos", aumentando assim a eficiência em grandes operações. Para se ter uma ideia da mentalidade da época, o criador da administração científica, Frederick Winslow Taylor, utilizava um cronômetro para tentar reduzir em alguns segundos o tempo que os trabalhadores demoravam para carregar produtos em um vagão de trem.
Naquele tempo essa mentalidade poderia ser importante porém o grande problema é que esse pensamento ainda é utilizado hoje em dia como base nas escolas de administração. Até o final do séc. XX, as finanças das empresas eram uma questão de bom senso, e envolviam aritmética simples, mas começaram a surgir então as complicadas fórmulas financeiras, como o modelo de precificação de opções Black-Scholes, a função de Cópula Gaussiana e o modelo de precificação de ativos financeiros (CAPM), e as escolas de negócios rapidamente as incluíram em seus currículos e as empresas imaginaram que seriam como fórmulas mágicas que resolveriam todos os seus problemas.
No entanto, a utilização dessas endeusadas fórmulas causou um grande impacto negativo na economia, pois as empresas que são organismos vivos, passaram a ser geridas através de números.
Um artigo da revista Americana Wired (fev. 2009), intitulado Recipe for disaster: The formula that killed Wall Street, mostra como essas fórmulas mirabolantes tiveram grande participação na bolha da tecnologia de 2000 e na crise imobiliária de 2008.
Além disso, a prática das famosas aquisições alavancadas (quando empresas compram outras empresas e financiam uma enorme expansão se endividando e depois as vendem com lucros) destruíram muitas empresas, prejudicando clientes e funcionários e beneficiando apenas os altos executivos e os principais acionistas.
Dessa forma, o que me espanta é que mesmo depois dessas desastrosas experiências, as empresas continuem a deixar a gestão sob a responsabilidade de engenheiros e financistas - que são especialistas em decifrar e manipular essas fórmulas - pois empresas são movidas por pessoas para beneficiar outras pessoas, com o objetivo de criar e entregar valor, afim de obter lucro.
O administrador moderno, assim como as empresas de sucesso, precisa ter velocidade, flexibilidade e inventividade, afinal, aprender como usar complexas fórmulas financeiras não é o mesmo que aprender como conduzir um negócio.
Os programas de MBA ao redor do mundo dão muito valor a esses tipos de "técnicas" e empurram os recém formados ao mercado, numa clara indicação de que estarão aptos a assumir altos cargos dentro das organizações aqueles profissionais que entendem de números - o que abre espaço para engenheiros - ,negligenciando matérias muito mais relevantes como psicologia e teoria dos sistemas.
Como diz o bilionário Warren Buffett, "cuidado com geeks munidos de fórmulas, eles podem destruir qualquer negócio". Sendo assim, acredito que engenheiros são excelentes com números e são muito importantes para a sociedade, financistas entendem de finanças, mas administradores são mais preparados para gerir pessoas e empresas, e um não pode ocupar o lugar do outro.
Fonte: Administradores
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