segunda-feira, 2 de março de 2015

Lições de vendas de um carnaval

Quatro pequenas lições extraídas de uma viagem de carnaval ao nordeste




Porto de Galinhas tem cerca de 312 motoristas de buggy. Um deles é o seu Sebastião, o "Tião", um senhor aparentando uns 50 anos, com 35 deles dedicados ao turismo. Com grandes grupos hoteleiros em seu currículo, há 5 anos Tião foi vítima da terceirização, e se viu obrigado a procurar um novo emprego. Comprou um buggy e, de chinelo, seguiu para uma nova jornada.

Para Tião, a vida como bugueiro é boa e "todo dia parece ser o primeiro", gente diferente, paisagens paradisíacas e clima agradável. Mas como todo autônomo, ele precisa estar com disposto e saudável, torcer para fazer sol e, o que pode ser o mais difícil, conquistar novos clientes todos os dias. Para um senhor experiente e simpático, isso não parece ser problema, ele sabe vender o seu peixe — passeio pelas praias que custa entre R$200-R$250 e, de quebra, leva um guia turístico e fotógrafo.

Seu Sebastião tem algo a mais, algo muito difícil de ensinar e que é relativamente comum no nordeste brasileira, uma motivação fora do comum. Seja qual for a fonte dessa motivação, ela o alimenta, e junto com alguns truques aprendidos ao longo do tempo, faz dele um grande vendedor. A vontade unida ao carisma acima da média torna os nordestinos os melhores vendedores do Brasil.

Se você já foi à Olinda em pleno carnaval, ou mesmo viu pela TV, pode imaginar a quantidade de vendedores — todos vendendo praticamente a mesma coisa. É preciso chamar atenção, e feito isso, não podem se dar o luxo de perder o cliente. Como vi escrito em uma concessionária de veículos em Recife "não perdemos venda". É assim nas lojinhas de Olinda fora do carnaval, no centro de Porto de Galinhas e em outros comércios. Eles fazem de tudo para vender!

Há anos, eu não visitava o nordeste e procurei extrair algumas das suas  técnicas para se dar bem com a concorrência. Mesmo para quem não é vendedor, é preciso lembrar que estamos vendendo o tempo todo, e marketing e comunicação de nada servem se não atraírem clientes e engordarem os números.

Quatro lições básicas de vendas que muitas empresas parecem ter esquecido e que no nordeste são muito bem aplicadas:

1. Faça barulho

Há diferença entre vender e ser comprado. Muitas vezes, é possível vender mais apenas fazendo algum barulho sobre algo que se vende. As pessoas precisam saber, mas não basta saber, elas precisam ser lembradas constantemente. Em meio à loucura do carnaval de Olinda, era possível ouvir "eu tenho Skol Beats (Senses)". Quando a minha latinha secava, eu não pensava duas vezes antes de escolher onde comprar.

2. A competição é melhor para todos

Valorize a competição. Ela força empresas e profissionais a fazerem mais, estimulando o mercado e atraindo mais consumidores. O problema é que é preciso se diferenciar para sobreviver. Fazer promoção, caprichar no design, anunciar, oferecer algo novo, como um buffet de cachorro quente em plena rua do Recife Antigo.

3. Adapte-se

A menos que você e os tubarões sejam melhores amigos, a praia de Boa Viagem não é uma das melhores praias para banho. Sendo assim, crianças deveriam odiar ir para lá  para ficar só apreciando as ondas. Para resolver o problema, vendedores espertos passaram a alugar piscinas infláveis. O que seria motivo para ficar de braços cruzados reclamando se tornou uma grande oportunidade de renda.

4. Facilite, facilite, facilite

A maior lição de vendas que eu extraí deste carnaval é que os pernambucanos fazem de tudo para facilitar o negócio. Qualquer vendedor, por menor que seja, aceita cartão de crédito; barracas não exigem pagamento adiantado e acham estranho se você tenta pagar ao consumir. Para eles, todo cliente é honesto até que se prove o contrário, o oposto do praticado em muitas empresas. Além disso, tem jeitinho para tudo, há flexibilidade, e difícil é encontrar algo que não pode ser feito se for para agradar o cliente. Não apenas na praia, mas em qualquer lugar.

O mais estranho em tudo isso é que essas coisas não deveriam chamar a minha atenção. No mundo perfeito, esse seria o padrão em todo o Brasil e em todas as empresas. Enquanto não é, continuaremos a nos impressionar com um simples e bom atendimento.



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