Para o empresário Elias Rocha Azevedo, o empreendedor brasileio costuma ser fisgado por armadilhas que poderiam ser evitadas com planejamento e algum conhecimento
As micro e pequenas empresas foram responsáveis por 52% dos pedidos de recuperação judicial no primeiro semestre de 2015, de acordo com dados da Serasa Experian. A estagnação da economia brasileira, o aumento dos juros e as restrições de crédito levam à queda do faturamento e do lucro. Mas este momento difícil pode não levar à ruína do negócio.
O empreendedor brasileio costuma ser fisgado por armadilhas que poderiam ser evitadas com planejamento e algum conhecimento, na opinião de Elias Rocha Azevedo, sócio e CEO da Ejafac Assessoria Empresarial, especialista em gestão de crises e recuperação judicial, que traz na bagagem 36 casos de administração de crises de empresas de todos os portes, cuja maioria não encerrou operações, só nos últimos dez anos.
“Um grande problema enfrentado pelo pequeno empresário é a morosidade em entender e dimensionar a real situação das finanças da empresa, bem como as perspectivas futuras do negócio. Ter consciência da real situação do empreendimento e do mercado em que está inserido deve ser o principal objetivo do empreendedor que enfrenta uma crise financeira”, aponta Azevedo.
Para colaborar com os empreendedores, o consultor da Ejafac lista sete pontos que podem determinar o fim ou a sobrevivência de qualquer negócio.
1. Mantenha o foco no empreendimento
É fundamental que os sócios estejam focados no negócio. Não basta a presença física. É preciso disciplina para avaliar os riscos. Muitas empresas enfrentam dificuldades por terem atribuições de presidência ou diretoria delegadas a gerentes. Há casos em que a própria identidade da empresa é substituída por valores e interesses de terceiros. O empreendedor não precisa ser especialista em todas as áreas do negócio ou conhecer as legislações vigentes. Mas deve ter noção do todo para poder questionar discrepâncias em setores que não estejam sob sua responsabilidade direta. Para evitar problemas financeiros, deve acompanhar variações mensais das receitas e despesas mais relevantes, como impostos e folha de pagamento. E, é claro, analisar com lupa as despesas financeiras decorrentes de empréstimos ou de antecipação de recebíveis.
2. Atenha-se à realidade
Em momentos de crise, muitos empreendedores passam, apenas, a analisar os dados positivos para o negócio, restringindo seu conhecimento da situação a informações que parecem favoráveis. Relatórios gerenciais que contemplem todos os aspectos relevantes da operação devem ser feitos e cuidadosamente revisados. Pior do que não ter as informações é tomar decisão com informações erradas. O empreendedor não deve se deixar levar pelo orgulho de ter clientes com grife, o reconhecimento de entidades do setor ou de concorrentes. Deve se preocupar com os níveis de endividamento de curto, médio e longo prazo.
3. Ouse certo
É comum o empresário buscar refúgio no otimismo e na esperança de dias melhores. Isso é muito importante, mas não funciona para a administração de dívidas. Renegociar o endividamento buscando melhores taxas e prazos é excelente, desde que a empresa cumpra com esta repactuação. A ousadia deve ser utilizada na busca por inovações, novos nichos de mercado e oportunidades e não na tomada de recursos impagáveis.
4. Coloque a razão à frente da emoção
Todos em uma empresa devem partilhar o mesmo sonho, mas, para que o negócio dê certo, têm que agir com a razão. Significa analisar friamente os resultados obtidos e ser cauteloso nas decisões de investimentos futuros, que podem representar o sucesso, mas também a ruína. É comum situações em que os laços afetivos dos sócios com os negócios impedem que se vejam os problemas. Investimentos que extrapolem a capacidade financeira da empresa, ou cujos prazos de retorno são morosos e custosos, devem ser evitados.
5. Se não vai ouvir, não gaste
Buscar conselhos de pessoas independentes e imparciais pode ser proveitoso. Advogados, contadores, o Sebrae ou consultorias especializadas são algumas alternativas. Mas o empresário não pode gastar com isso se não estiver interessado em, de fato, ouvir o que têm a dizer. Tem que estar aberto a opiniões contrárias, e avaliar críticas e sugestões com humildade, evitando assumir a postura de senhor da razão que já levou muitos bons negócios à falência.
6. Separe a pessoa física da jurídica
É comum que o padrão de vida do empreendedor cresça à medida que a empresa cresce. O contrário é difícil de acontecer. Altas retiradas em períodos de crise afetam o caixa da empresa, além de aumentar o endividamento e a capacidade de geração de receitas. Os cortes de custo devem, muitas vezes, começar no ambiente doméstico. Sem isto, a credibilidade do empreendedor frente a seus colaboradores e credores tende a ruir.
7. Reconheça quando é melhor parar
Nem sempre é possível salvar uma empresa da falência. O empresário pode ter perdido o timing do pedido de socorro, o negócio pode ter se tornado ruim em termos de rentabilidade e de mercado, ou os sócios podem não ter o perfil necessário diante das atuais exigências do mercado. É preciso buscar ajuda e, se for o caso, saber parar. É comum ver empresários queimando patrimônio para tentar salvar um negócio sem que o real problema seja diagnosticado, às vezes perdendo oportunidades para vender a empresa ou encerrar atividades para não ampliar as dívidas. A recuperação judicial pode ser uma alternativa, desde que o processo seja orientado por profissionais com expertise nisso e baseado na remodelação do negócio sob premissas conservadoras e factíveis. Sem o devido planejamento apenas se postergam os problemas.
Fonte: Administradores
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