Pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Neuromarketing
da FGV mostram que as decisões de consumo são muito mais baseadas em aspectos
emocionais que nos racionais.
O neuromarketing precisa ser desmistificado. Mesmo baseando
suas análises nas mudanças fisiológicas e nas reações das pessoas diante de um
determinado estímulo, como uma nova embalagem, uma peça publicitária ou a
composição de um produto, ele não garante a compra. O Laboratório de
Neuromarketing da FGV Projetos é um dos primeiros a oferecer trabalhos de
pesquisa baseados na neurociência no Brasil e vem trabalhando com o desafio de
convencer o mercado sobre os benefícios gerados por estas novas ferramentas.
A complementariedade entre as observações neurométricas e as
pesquisas quantitativas e qualitativas tradicionais é outro ponto que precisa
ser esclarecido. Muitas empresas revelam uma preocupação com a integração entre
elas, acreditando que podem ser conflitantes. Uma das iniciativas para ajudar
neste processo de educação das organizações sobre a importância da nova
disciplina é a organização do II Fórum Mundial de Neuromarketing, que ocorre
entre os dias 6 e 8 de março em São Paulo.
Em segmentos mais competitivos, a tendência é que as marcas
usem o neuromarketing para aumentar o grau de acerto de suas decisões. “As
pesquisas nos revelam que embora os produtos sejam similares, uns têm uma
capacidade de emocionar maior que os outros. Não significa que estamos
apertando um botão de compra automática no consumidor. As ferramentas apenas
indicam em qual produto a probabilidade de sucesso é maior. O neuromarketing
não é uma panacéia”, explica Carlos Augusto da Costa, Diretor Adjunto de
Mercado e Coordenador do Laboratório de Neuromarketing da FGV Projetos. Leia a
entrevista:
Até que ponto conseguimos prever o sucesso de um produto a
partir das ferramentas de neuromarketing?
Carlos Augusto da Costa - Temos estudos de empresas que
atuavam em determinada área e pretendiam ampliar a sua atuação para outros
segmentos. Realizadas as tradicionais pesquisas quantitativas e qualitativas,
os resultados indicavam que não haveria problema. Porém, as pesquisas de
neuromarketing mostravam que havia sim algum conflito de valor ou de atributo
de produto. Estes produtos foram lançados e esta previsão negativa se
confirmou: as novas linhas não conseguiram obter sucesso. Por que o resultado
da neurociência foi mais preciso? Porque o grau de emoção que é gerado em um
consumidor a partir de um estímulo diz muito mais do que simplesmente perguntar
ao mesmo consumidor a sua opinião. As pesquisas nos revelam que embora os
produtos sejam similares, uns têm uma capacidade de emocionar maior que os
outros. Não significa que estamos apertando um botão de compra automática no
consumidor. As ferramentas apenas indicam em qual produto a probabilidade de sucesso
é maior. O neuromarketing não é uma panacéia.
E como está sendo a receptividade do mercado?
Carlos Augusto da Costa - A curiosidade é grande. Em 2012,
fizemos cerca de 100 apresentações mostrando para a iniciativa privada os benefícios
da aplicação das ferramentas da neurociência. A grande preocupação de muitas
empresas é sobre a integração das novas tecnologias com os métodos que as
organizações estão acostumadas a utilizar, como pesquisas qualitativas e
quantitativas. Temos feito um trabalho de formação, mostrando que a pesquisa
tradicional continua servindo. Nada vai substituir, pelo menos a curto e médio
prazo, perguntar a um cliente o que ele acha do seu produto. Porém, neste
método o respondente processa a questão e ao fazer isso, automaticamente coloca
um frame que vai nortear a sua resposta. No neuromarketing, não fazemos as
perguntas. Apenas observamos as reações fisiológicas e emocionais das pessoas.
Isso nos abre um novo leque de respostas.
O processo de tomada de decisão no momento do consumo é
difícil e acaba sendo pouco racional. As pessoas têm a sua disposição uma
variedade enorme de produtos e a escolha entre um e outro leva em conta
elementos que nem sempre são percebidos. Antes se dizia que os seres humanos
eram máquinas pensantes que tinham emoções. Hoje está mais do que claro que a
ordem é inversa: somos seres altamente emotivos que pensam. O pensamento
cognitivo vem correndo atrás das emoções. Quantas vezes compramos algo e depois
buscamos explicações racionais para justificar as nossas decisões? Está mais do
que claro que boa parte das decisões de consumo são emocionais e não racionais.
Como isso influencia o planejamento e execução do Marketing
dentro das organizações?
Carlos Augusto da Costa - O Marketing tem grandes desafios e
o mais importante deles é chamar a atenção do consumidor. De acordo com o
posicionamento das coisas no ambiente, muitos detalhes não são sequer
percebidos. O processo de fidelização na compra começa pela visão: o consumidor
precisa ver o produto. O segundo passo é emocionar de alguma forma. Muitas
vezes, um dos produtos traz memórias e lembranças, pelo cheiro, pelo tato, pelo
tipo, formato de embalagem e isso faz com que ele seja escolhido em detrimento
do outro. Por isso, monitoramos a atenção, a emoção e por fim, o potencial de
memorização. Isso significa que ao retornar no ponto de venda, a pessoa terá
uma memória do item em seu subconsciente e vai para a recompra. Muitas vezes,
ela não saberá nem explicar porque comprou novamente. Não será capaz de
racionalizar sua decisão e dará respostas como “comprei porque achei a
embalagem bonita”.
O mercado já confia na neurociência como balizadora de sua
tomada de decisão?
Carlos Augusto da Costa - Há uma curiosidade do mercado, mas
há também uma expectativa para ver como isso vai funcionar. Empresas que estão
em mercados muito competitivos estão adotando, enquanto outras ainda observam.
Mas este certamente é um setor que vai crescer muito nos próximos anos. Não há
um filme de Hollywood hoje que não passe por uma análise neurométrica. Antes
isso era feito com uma ferramenta chamada Perception Analysis, onde o
telespectador ficava com um dial e indicava, a cada cena do filme, se estava
gostando ou não. Hoje, o público usa sensores e todas as suas reações são
monitoradas a cada segundo de projeção. O diferencial da nova técnica é que se
estamos diante de um produto ou serviço e ele gera emoções positivas, a
probabilidade de consumo é maior. São estas sutiliezas que o neuromarketing
avalia. Estamos falando de percepções micro e de sistemas muito precisos. A
quantidade de erro é bem menor do que quando ouvimos a opinião verbalizada das
pessoas. No neuromarketing, não perguntamos nada e sim observamos suas reações
diante de algum estímulo. Com isso, temos um caminho indicado para a tomada de
decisão.
Em termos de avanço científico, o Brasil está no mesmo
patamar que os países mais desenvolvidos?
Carlos Augusto da Costa – Sim. Temos aqui a mesma tecnologia
que existe lá fora. A única coisa que não temos em nosso laboratório é a
ressonância magnética funcional, mas para isso temos hospitais parceiros que
nos ajudam quando precisamos fazer algum estudo neste sentido. A FGV pode oferecer uma solução completa para
qualquer empresa, em qualquer segmento.
O que falta para o neuromarketing se popularizar e sair da
teoria para uma atuação mais prática nas empresas?
Carlos Augusto da Costa – Acredito na especialização. Esta é
uma área que exige investimentos constantes, pois estão sempre sendo criadas
novas tecnologias. O recrutamento para este trabalho é mais complexo que nas
pesquisas tradicionais. Há todo um cuidado na seleção das pessoas que vão
conduzir tais pesquisas. E as empresas estão percebendo que a decisão do
consumidor está longe de ser racional. Acredito que o laboratório da FGV está
sendo indutor neste movimento e ajudará no desenvolvimento deste segmento no
Brasil. Queremos que nossas empresas entendam que elas têm condições de tomar
decisões com o mesmo nível de precisão que as marcas internacionais. Estas
ferramentas vieram para ficar e serão cada vez mais fundamentais para a
sobrevivência de um negócio
.
Que ferramentas e soluções são oferecidas às empresas?
Carlos Augusto da Costa - Criamos um grupo que não só
desenvolve pesquisas, como também estudos específicos. Estamos aptos a realizar
desde pequenos trabalhos, como a análise de um site para uma pequena empresa,
até pesquisas mais complexas envolvendo flexibilidade de preços, neurostore,
que estuda o posicionamento de produtos dentro do ponto de venda, entre outras
coisas. Caso uma companhia necessite de um estudo do mercado sob a ótica do
neuromarketing, temos condições de atendê-la. Podemos desenvolver tanto
pesquisas acadêmicas quanto trabalhos de rápidas respostas. Se uma marca quer
lançar um produto, temos como fazer o pré-teste. O número comumente citado em
países como Japão e Estados Unidos é de que a cada 100 lançamentos, apenas 15
logram êxito. O restante fracassa. Com a aplicação do neuromarketing, temos uma
melhora nestes índices. Usamos equipamentos de ressonância magnética,
eletroencefalografia, eye tracking, e conseguimos monitorar os batimentos
cardíacos, a abertura e fechamento das pupilas, a condutância da pela (com isso
percebemos o grau de excitação que um determinado produto ou serviço causa no
consumidor), entre outros aspectos que jamais seriam verificados em uma pesquisa
tradicional.
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