Ultimamente, tenho visto uma enxurrada de iniciativas para o empoderamento feminino. São campanhas, propagandas e até filmes que abordam temas que antigamente permeavam apenas os “não-ditos” do imaginário feminino.
Se antes as mulheres eram encorajadas a buscar o príncipe encantado, ser meigas e agradar sempre, hoje, o incentivo é para dizer o que se pensa e se posicionar mais, de acordo com a própria vontade. Foi o que vi no último comercial vinculado pela Pantene dias atrás, que, aliás, se mantém firme no posicionamento de que mulher forte brilha.
Surpreendi-me com a propaganda, justamente porque aborda um tema que faz parte do inconsciente coletivo feminino e que, de tão arraigado socialmente, quase me fez pedir desculpas a mim mesma, por tantos anos de uma culpa no mínimo indevida.
Sim, pedimos desculpas demais e, mais do que isso, atribuímos a nós mesmas uma responsabilidade que não nos pertence, dando assim o direito social ao outro de também nos culpar.
Fomos criadas para agradar e isso implica colocar a vontade do outro em primeiro plano. Caso contrário, devemos sentir arrependimento por um pensamento tão egoísta, porque nos disseram quando meninas que devemos antes cuidar dos outros, e nos negligenciarmos, se for preciso. Não estou dizendo que isso é um pensamento intencional, mas um comportamento tão automático que, às vezes, nem é percebido.
Fomos condicionadas a não pensarmos em nós e moldadas para sermos dóceis e queridas, mesmo que isso resulte em prejuízo próprio e implique carregar uma culpa que não nos pertence e que, no fundo, não pertence a ninguém.
É preciso perceber que pedir desculpas constantemente reforça o quão frágeis e tolas podemos parecer, não de forma intencional, mas inconsciente, afinal, ninguém quer sair por aí fazendo papel de boba. Veja bem, não estou aqui pregando a “deseducação” ou falta de polidez, até porque acredito que educação, cordialidade e gentileza independem de gênero. O que o comercial aborda é o fato de ficar pedindo desculpas por pequenas coisas o tempo todo.
Para isso, sim, acredito que deve haver uma reflexão e talvez uma mudança de comportamento feita de maneira intencional e consciente, pois a mudança de um comportamento como esse implica também a mudança de posicionamento do papel social que exercemos.
É preciso saber que se desculpar constantemente é dar ao outro o poder de também imaginar que há, sim, culpa por aquilo que não fazemos, propagando assim o comportamento submisso como uma condição da natureza feminina.
Chega de se desculpar por ser você mesma. E, como diz o comercial: "Sorry, not sorry!" (Desculpe, mas não vou me desculpar).
Gisele
Meter, Momento do Administrador, 26 de Junho 2014.
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