quinta-feira, 12 de junho de 2014

A morte do 'Eu Não Posso'

Como convencer seus liderados que eles são muito mais do que pensam? Leia essa história




Muito se tem falado no papel do líder e nas características da boa liderança. É um belo discurso, sem dúvida. Mas na vida real, a coisa nem sempre é assim. Quando a pressão por resultados aumenta – e ela sempre aumenta – não é fácil transformar a teoria em prática. Nessa hora, são raros os que conseguem evitar a tentação de recorrer a um velho método, execrado por todos os cursos, livros e cartilhas de liderança: repassar a pressão para os funcionários e colaboradores, de preferência em dobro. E haja intimidação, coação, ameaças e demonstrações de autoritarismo.

Não é minha intenção fazer mais um discurso para tentar provar que as coisas podem – e devem – ser diferentes. Em vez disso, prefiro dar um exemplo concreto de como o verdadeiro líder é capaz de virar o jogo e mudar toda uma cultura empresarial improdutiva apelando para a criatividade, e não para a força bruta. Essa história me foi contada por meu amigo Mário Griecco, ex-presidente do Laboratório Bristol Myers Squibb do Brasil. Anos atrás, Griecco assumiu a presidência da Squibb de Porto Rico e deparou-se com uma dificuldade aparentemente intransponível. A empresa estava contaminada pelo apego aos velhos hábitos e a resistência às mudanças era feroz. Cada proposta de Griecco esbarrava na muralha do “isto é impossível”. E a frase que ele mais ouvia, tal qual bolero em vitrola quebrada, era sempre o “yo no puedo, yo no puedo...”.

O que fazer? Ameaças de demissão e medidas autoritárias não fazem parte de seu estilo de liderança. Afinal, o que ele queria era a cooperação, e não a duvidosa subserviência dos que são forçados a agir de uma forma, mas continuam pensando de outra. O diálogo e os argumentos racionais, contudo, pareciam cair em ouvidos moucos. A solução encontrada por Griecco surpreende pela originalidade e pelos incríveis resultados que proporcionou. Um belo dia, ele pediu aos funcionários que escrevessem suas listas do “yo no puedo”. Todos deveriam enumerar, uma a uma, as coisas que achavam que não podiam fazer, tanto no plano pessoal quanto no profissional. A seguir, foi convocada uma reunião na qual eles apresentariam suas listas.

Os porto-riquenhos devem ter pensado que aquele presidente brasileiro havia enlouquecido quando o viram chegar para a reunião vestido de padre e carregando um pequeno caixão de defunto. Griecco pediu-lhes, então, que depositassem suas listas no caixão e anunciou: “Hoje vamos enterrar de uma vez por todas o ‘yo no puedo’”. Atônitos, os funcionários seguiram seu presidente em uma procissão fúnebre que percorreu os corredores da empresa até chegar à área externa, onde foi aberta uma cova e o “yo no puedo” foi sepultado com todas as honras. O gesto simbólico exerceu um poderoso efeito transformador na mentalidade até então dominante – proeza que nenhum discurso ou ameaça teria conseguido realizar. Até hoje, quando visitantes deparam-se com a inusitada lápide e perguntam quem está enterrado lá, os porto-riquenhos relatam, orgulhosos, a história do dia em que o “yo no puedo” morreu.



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