segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Gestão do Meio Ambiente: A responsabilidade do Administrador no processo de sustentabilidade social das empresas

A questão ambiental e o cuidado com o social estão presentes no dia a dia das corporações e órgãos públicos. Mesmo que em muitos casos seja ainda mais uma boa intenção, do que realidade de fato, a conscientização existe e ganha força. Quem trabalha com isso sabe que as conquistas vêm aos poucos, não adianta fazer planos que não serão concretizados ou logo abandonados. Para dar certo, a sustentabilidade nas empresas deve ser também financeira ou corre o risco de ser cortada em pouco tempo. 



A chamada Responsabilidade Socioambiental (RSA) acontece quando se consegue um duplo benefício em uma ação: minimizar as mazelas da sociedade e contribuir para a sustentabilidade do meio ambiente. Não deve, no entanto, ser confundida com o cumprimento dos deveres legais ou como filantropia. A RSA vai além, tem ações próprias e acontece de forma sistemática, o que não quer dizer que seja complexa, ao contrário, pode ser adotada por empresas de todas as configurações.  

O Adm. Ricardo Ribeiro Alves, que integra a Câmara de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do CRA-RS e vencedor do Prêmio Belmiro Siqueira de Administração na modalidade Artigo Profissional com o trabalho A gestão ambiental na formação do Administrador, afirma que uma empresa somente investe em algo se percebe que terá alguma vantagem competitiva ou se for obrigada a isso por meio da legislação. No caso da vantagem, a primeira razão e mais óbvia da adoção é para atender às exigências e pressões dos stakeholders . Mas, o motivo que tem despertado as empresas para a sustentabilidade é a possibilidade de otimizar recursos e ganhar dinheiro. 

Para ele, as atitudes e ações que incluem as práticas ambientais favorecem os negócios e podem resultar em ganhos econômicos devendo, portanto, fazer parte de suas estratégias. “A organização pode tentar, também, otimizar o uso de água, seja por meio da conscientização de seus empregados, seja através de melhorias em sua estrutura; um exemplo é na utilização de torneiras mais econômicas ou praticar o reuso. Outra situação possível é a redução do consumo de energia elétrica por meio de adaptações em seus espaços físicos com o melhor aproveitamento da luz natural utilizando-se claraboias ou tetos verdes para refrescar o ambiente interno e economizar no uso de ar condicionado. Em todos esses aspectos haverá ganhos ambientais, contudo o econômico será o principal motivador da organização”, diz.  

Implantar é apenas um dos aspectos, manter as ações e programas sociais e ambientais no rol de prioridades também é importante. A Mestre em Engenharia Ambiental e Adm. Marie Cristine Fortes Rocha afirma que independentemente do tipo ou tamanho da organização, a execução e manutenção de ações de ordem social e ambiental costumam usufruir recursos de ordem financeira, mão de obra e infraestrutura adequada. Para isso, é necessário planejamento e previsão de orçamento de um ciclo para outro, garantindo a manutenção destas estratégias de negócio. Caso contrário, pode-se correr o risco de ter que declinar em algum projeto ou contar com ajuda externa, o que não é uma garantia no atual contexto econômico do país. “A responsabilidade empresarial sobre aspectos sociais e ambientais deve ser encarada como uma estratégia de negócio para a sustentabilidade, unindo-se aos outros fatores econômicos, culturais, humanos e legais  os quais terão de ser seguidos de maneira séria, sólida e para a melhoria da organização e da sociedade de forma integrada”, explica, lembrando que as empresas são conduzidas por pessoas e naturalmente serão um reflexo dos pensamentos e das condutas de seus dirigentes. “O nível do discurso sustentável vai depender da crença, do sentimento e da responsabilidade de seus líderes em relação ao tema ‘meio ambiente no âmbito empresarial’”, aponta.  

Números alarmantes e pouco compromisso das nações

Os altos índices de agressão ao meio ambiente contrastam com os compromissos das nações, especialmente as mais ricas que têm as condições de investir em ações e tecnologias redutoras, mas têm também hábitos de vida ou produção que exigem mais da Terra. A eleição do Donald Trump, por exemplo, trouxe apreensão, pois ele já declarou que não acredita no aquecimento global e disse em sua campanha que iria cancelar o acordo de Paris sobre o clima, assinado no ano passado durante a 21ª Conferência do Clima de París (COP 21). Além disso, a China, segunda economia mundial, possui grande parte da população vivendo em condições precárias, mas tem pouco cuidado na produção industrial.  

No recente XII Congresso Mundial de Administração em Cartagena de Índias, na Colômbia, a antropóloga Mayanna Lahsen, apresentou números alarmantes: a concentração de CO2 é a maior dos últimos 800 mil anos. “Para onde estamos indo se não mudarmos nossas atitudes? No meio do milênio vamos perceber cada vez mais impactos. Teremos problemas em relação à alimentação, às mudanças climáticas e recursos muito escassos”, disse na ocasião. As emissões de gases entre os anos de 1850 e 2011 pertenciam 40% somente aos Estados Unidos e Europa (21% e 18% respectivamente), à Índia correspondia apenas 3%. Hoje, a China lidera com 25%, seguida dos Estados Unidos (18%) e Europa (10%). “Temos opções para reduzir as emissões e limitar as mudanças climáticas. Uma delas é criar uma sociedade mais consciente e sustentável”, analisou, destacando que deve-se preservar os recursos naturais para as gerações futuras. 

Em 1997 foi assinado no Framework Convention on Climate Change , o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2008. “Dentro da medida se falava muito em distinção dos países na questão de emissão de gases. Hoje já não se fala mais nisso. O problema do Protocolo é que os maiores emissores acabaram se retirando do grupo e no segundo período de compromisso, entre 2012 e 2020, só estavam os países que ocupam os lugares de menos emissões”, ressaltou, revelando um dado surpreendente: só em 2015, o mundo já emitiu quase 1900 gt equivalente à CO2, sendo que o limite é de 2900 gt. “Com as emissões atuais, transmitiríamos 1000 gt em 30 anos e ultrapassaríamos a temperatura de dois graus célsius”, alertou. Na COP 21, diferente do Protocolo de Kyoto, não tem penalidades para àqueles que não o cumprirem, sendo um processo voluntário. “Há uma avaliação de 5 em 5 anos, após esse período os compromissos devem ser mais fortes e mais intensos”, realçou. Existe um fundo para que os países em desenvolvimento tenham acesso às ferramentas necessárias, porém o objetivo é juntar 100 bilhões de dólares até 2020, mas até agora esse valor é de 10 bilhões. 

Em relação a ações que fazem a diferença, o acesso mais livre às informações, através da internet por exemplo, pode ser um aliado. “Ninguém fala que é fundamental reduzir o consumo de carne para lidar com as mudanças climáticas. Entre 15 e 18% das emissões globais vêm do consumo de carne, principalmente do porco. O gado, ainda, é o grande motor do desmatamento e isso não inclui o transporte dos animais”, revelou Mayanna, destacando que o assunto é um tabu e não é divulgado pelas grandes mídias. Estudos do grupo Observatório do Clima apontam que 69% das emissões de gases do Brasil estão ligadas à produção do alimento.


Os consumidores se mostram intolerantes em relação ao descaso no tratamento dos recursos naturais e estão interessados em produtos limpos. Deve-se atender esta demanda, mas com realidade e verdade, sem cair no falso marketing verde. Até porque, com a vigilância das redes sociais, situações maquiadas são facilmente descobertas. “Os meios de comunicação têm ajudado muito no sentido de esclarecer ao cliente sobre a importância e as vantagens de adquirir produtos e serviços que têm viés sustentável. Para o novo consumidor, o fator preço já começa a ser acordado de acordo com fatores ligados ao meio ambiente. Muitas empresas também surgiram e ainda tem potencial para surgir oferecendo produtos e serviços que sejam úteis, atendam nossas necessidades e que não causem nenhum impacto negativo de ordem ambiental e social”, diz Marie. 

Ao mesmo tempo, observa-se que os debates de redes sociais são intensos, mas logo substituídos por outros igualmente polêmicos. E em certas situações, mesmo com a informação, o cliente sente sua fragilidade diante de problemas de difícil solução, como o da indústria têxtil, que enfrenta há tempos acusações sobre questões trabalhistas, inclusive em marcas famosas e caras, ou de grave prejuízo, como o evento da Samarco em Minas Gerais. “O caso é uma evidência da tragédia que pode ser gerada diante da negligência e da falta de visão sustentável dentro de uma empresa. Os procedimentos para recuperação muitas vezes fogem da alçada da sociedade e o processo de apuração de culpados é outra situação complexa, portanto, a melhor solução ainda é investir na prevenção e na informação para que todos possam ajudar a controlar e melhorar ações sustentáveis, independente da classe social e nível de ocupação dentro da organização”, analisa a Administradora.

Fonte: Revista Master

Momento do ADM - 30 janeiro 2017.


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